25 anos atrás, a gigante dos fliperamas japoneses Namco estava lançando no Super Famicon (SNES) o seu próprio RPG para competir com os maiores nomes da indústria: Tales of Phantasia. Alcançado sucesso entre a crítica e uma legião de fãs, o jogo trouxe diversas novidades que mudariam a fórmula do gênero que já incluía pesos como Final Fantasy e Dragon Quest.
Hoje, duas décadas e meio após seu lançamento, podemos dizer o quanto os RPGs mudaram, tanto em sua apresentação, quanto em sua produção. Parte disso se deve à franquia Tales, que mudou a forma de como esses jogos eram feitos.
Desafiando o futuro
O início da franquia Tales se deu bem no fim de uma geração que viu o lançamento de clássicos como Final Fantasy VI, Chrono Trigger e Dragon Quest V. Esses títulos, até hoje, são lembrados entre os melhores do segundo console doméstico da Nintendo.
Apesar de todos os grandes RPGs japoneses da época de certa forma inovarem o gênero, eles ainda se prendiam a um molde pré-estabelecido. Assim, a maioria manteve as tradicionais mecânicas de batalhas por turnos, limitando as ações do jogador a comandos típicos, e apresentavam histórias com elementos esperados de fantasias medievais.
Dessa forma, o cenário estava pronto para que Tales of Phantasia se destacasse com seu lançamento em 15 de dezembro de 1995. Além de uma premissa diferenciada, a jogabilidade se inspirava em jogos de luta da época e sua apresentação influenciada por anime certamente serviria como um chamativo extra para jovens japoneses.
Criado a partir de um roteiro idealizado pelo programador Yoshiharu Gotanda, Phantasia começou a vida bem diferente de como o conhecemos. Apesar disso, o jogo sempre teve como objetivo principal ser um diferencial no meio de tantos RPGs que eram lançados anualmente.
Com um estilo de batalha totalmente diferente, inspirado em títulos como Street Fighter II e jogos de luta da SNK, o novo RPG mostrou que jogadores podiam ter um controle maior sobre batalhas. Como era de se esperar, outras franquias notaram a ideia curiosa e se inspiraram a criar sistemas semelhantes para seus jogos futuros.
Notando o grande salto em popularidade que animes estavam vivenciando nos anos 90, a Namco decidiu usar as animações japonesas como base para o visual do jogo. Não é à toa que hoje é tão comum ver JRPGs usando e abusando desse estilo e até as próprias séries animadas passaram a explorar histórias se passando em mundos ditados por tropos do gênero.
Claro, a série Dragon Quest, por exemplo, é famosa por seus personagens desenhados no estilo de Akira Toriyama, criador da imensamente popular franquia Dragon Ball. Porém, foi com Tales que animes e RPGs começaram a se aproximar ainda mais, com o primeiro jogo trazendo uma animação de abertura semelhante às que fãs de séries animadas estavam acostumados a ver na TV. Isso viria a se tornar tradição para futuros títulos da série, como Tales of Destiny que inclui uma introdução produzida pelo estúdio Production I.G.
De forma semelhante à colaboração entre a Enix e Toriyama, a Namco também empregou um autor de mangás para dar vida aos personagens de Phantasia com seus traços. Kousuke Fujishima, conhecido por obras como Oh! My Goddess e You’re Under Arrest, se tornou um colaborador importante da equipe e foi apenas o primeiro de muitos mangakás que contribuiriam com os visuais da franquia ao decorrer dos anos.
Finalmente, para completar a conexão do jogo com animes, a Namco também utilizou dubladores profissionais de séries animadas para dar voz aos seus personagens. Com Takeshi Kusao, Kazuhiko Inoue e Mika Kanai sendo alguns dos primeiros nomes de dublagem associados a Tales, hoje o anúncio de novos atores se juntando à franquia é algo muito antecipado por fãs, com alguns muito famosos já assinando os créditos em vários jogos da série. Isso, é claro, também passou a acontecer em várias outras franquias.
Mantendo uma tradição viva por décadas
Com a chegada da geração 32-bits e o advento dos gráficos tridimensionais nos consoles, muitos títulos passaram das tradicionais sprites para polígonos. Entrentanto, a franquia Tales continuou a utilizar, por anos, sprites 2D sobrepostas em cenários 3D. Enquanto Final Fantasy X demonstrava lindos gráficos e incríveis animações CGI, Tales of Destiny 2, o primeiro jogo da série para PlayStation 2, utilizava fantásticas imagens bidimensionais e cenas que pareciam sair de um anime.
Apesar de não ter o mesmo sucesso de Final Fantasy, a série Tales mostrou que ainda existia espaço para jogos 2D. Junto com Atelier, podemos dizer que a franquia ajudou a mostrar que não era preciso investir em gráficos ultra-realísticos para poder oferecer uma experiência divertida aos fãs.
Eventualmente, a franquia cedeu ao 3D, mas a influência de seus antigos gráficos 2D e estilo de animação ainda se manteve presente através dos gráficos poligonais. Apesar da apresentação não ser revolucionária, dava para notar como os personagens dos jogos, sempre mantendo o visual “anime”, permaneciam bem expressivos. Semelhantemente, franquias de JRPG como Atelier, Trails e Disgaea seguem a mesma rota, transicionando-se para a terceira dimensão sem sacrificar os traços de artistas de mangá.
Apesar de ainda ficar atrás de gigantes como Final Fantasy, os números de Tales em vendas tendem a ser longe de ruins, estando entre as 10 franquias de RPGs japoneses mais populares da atualidade. No total, são mais de 23 milhões de cópias vendidas desde ao decorrer de 25 anos, desde o lançamento de Phantasia.
Estendendo os braços
Tales sempre foi um enorme sucesso em sua terra natal graças aos diversos elementos que sempre agradaram os fãs da subcultura dos animes. Por isso, não é surpresa que a atual Bandai Namco estendeu o alcance da série para muito mais do que jogos. O caminho óbvio para elevar a franquia além de suas origem de entretenimento eletrônico foi, é claro, o das próprias séries animadas que tanto inspiraram os games.
Começando com Tales of Eternia, muitas outras tramas de jogos foram adaptadas para o formato episódico de TV. Obras memoráveis como Tales of the Abyss e Tales of Zestiria the X vieram para garantir aos fãs da franquia outra forma de desfrutar suas histórias favoritas, além de abrir as portas para um público que talvez ainda não conhecia os RPGs.
Manter a comunidade de fãs feliz é algo que toda grande franquia busca fazer, então a produção de alguns agrados, como os populares “drama CDs”, é algo que vem de praxe. Entretanto, mais do que agradar esse grupo, também é importante mantê-lo unido e próximo da marca e é aí que entram eventos como o anual “Tales of Festival”, que simultaneamente serve como um veículo para novos anúncios.
Um conto que ainda pode crescer
Fora do Japão, a série tem tido seus altos e baixos, com muitos de seus títulos não sendo lançados internacionalmente. O primeiro jogo que chegou ao ocidente foi Tales of Destiny, o segundo da franquia, em 1998. Infelizmente, outras entradas, como o remake de Tales of Phantasia, lançado um ano depois, não tiveram a mesma sorte de um lançamento ocidental e ficaram presas no Japão.
Com o auge de jogos 3D, a ideia durante a geração PlayStation era de que títulos feitos “à moda antiga” não eram de interesse do público no ocidente, levando clássicos como Tales of Destiny 2 e Rebirth a nunca ver o nascer do sol fora de sua terra natal. Felizmente, isso começou a mudar a partir de 2012, com todos os jogos de Tales of Graces F recebendo versões ocidentais, mesmo que anos depois do lançamento original no Japão.
Mesmo que os números de vendas não cheguem perto de outras franquias mais populares, hoje a Bandai Namco vê o valor internacional de Tales. Assim, é improvável que, no futuro, a empresa volte a deixar fãs ocidentais de fora de grandes lançamentos da série.
Tão empolgante quanto falar sobre o passado da franquia é ver o que ainda está por vir, com Tales of Arise, o próximo grande título da série, projetado para ser lançado em 2021 no PS4, Xbox One e PC. Trazendo o poder da Unreal Engine 4, o novo jogo está sendo produzido com o intuito de deixar ambos fãs de longa data e novatos a esses incríveis JRPGs orgulhosos de jogar.
Se você está entre aqueles que ainda não conhecem a franquia, saiba que qualquer jogo principal da série é um ótimo ponto de entrada, já que nenhum requer conhecimento prévio de títulos anteriores. Quem sabe você não acaba descobrindo uma nova paixão em Tales?