O ano é 1991, o Super Nintendo acaba de ser lançado, a Capcom está no auge de sua fama e em outubro ela resolve dar continuidade a uma das suas franquias que mais deixou terror e frustração em jogadores: Ghosts ‘n Goblins. Conhecido como Makaimura (algo como “vilarejo do mundo demoníaco”) no Japão, o jogo foi lançado para diversos consoles, mais conhecido pelas versões de fliperama e NES, e ganhando reconhecimento por sua dificuldade alta e visual sombrio e cheio de monstros. Apesar da imensa frustração dos jogadores dada a dificuldade, o jogo foi um grande sucesso, ganhando a sequência Ghouls ‘n Ghosts, e, no pulo para o Super Nintendo, Super Ghouls ‘n Ghosts.
Conhecido como Choumakaimura no Japão (algo como “o grande vilarejo do mundo demoníaco”), Super Ghouls ‘n Ghosts é um jogo de plataforma com um visual medieval-fantástico, contando a história de Sir Arthur, cavaleiro e amante da princesa Prin-Prin, que, em uma noite de festa em seu reino, aproveitando a companhia a sós de Sir Arthur, é repentinamente capturada por Satan. Sim, o próprio príncipe das trevas aparece para estragar a noite do casal. Odeio quando isso acontece comigo. E Satan vem a mando do Imperador Sardius, que quer destruir o Bracelete da Deusa que a princesa possui (a hierarquia do mundo demoníaco é mais complicada do que pensávamos…). A partir daí, Sir Arthur precisa atravessar o caminho infestado de monstros e criaturas demoníacas para chegar ao palácio do Imperador e resgatar a princesa. O famoso caso da donzela em perigo, tão original quanto a piada do pavê.
Super Ghouls ‘n Ghosts possui um tom bem familiar àqueles que jogaram Castlevania, colocando o jogador contra diversas criaturas monstruosas diferentes como fantasmas, zumbis, gárgulas, demônios e goblins, atravessando lugares cheios de perigos como cemitérios, castelos e navios abandonados, passando de fase em fase em um mapa até alcançar seu objetivo final.
O visual sombrio e a trilha sonora com tom perigoso e composição que grita “Capcom dos anos 90” com todas as letras ajudam a transmitir a mensagem de que a jornada é longa, traiçoeira, e tudo o que se mexe quer nosso protagonista morto. Mais especificamente, em uma pilha de ossos.
Mas o visual não é a única coisa que fãs de Castlevania vão achar semelhante: A jogabilidade mantém o mesmo peso e rigidez do protagonista (talvez Sir Arthur tenha relação com os Belmont? Aguardo as teorias, e uma explicação da Konami e da Capcom na minha mesa às 5). Isso significa que Sir Arthur não pode mudar de direção durante o seu pulo, fazendo com que cada pulo tenha um arco definido e que tenha que ser estrategicamente calculado. Felizmente, o protagonista conta com um pulo duplo, que pode ajudar a controlar melhor a distância e corrigir alguns erros, apesar de demandar um certo costume do jogador.
Para se defender, Sir Arthur pode arremessar diferentes armas em seus oponentes, que variam desde uma lança e uma adaga que vão diretamente à sua frente a uma besta que atira em diagonal e uma tocha flamejante que queima o chão por alguns metros. Cada arma tem suas próprias prioridades, e pode ser encontrada em um dos muitos baús secretos espalhados por todo o cenário do jogo. Os baús são descobertos por passar por cima de certos pontos específicos nos cenários, como descer uma escada ou pular por cima de um pilar. É algo confuso no começo, mas que não é difícil de se acostumar. Além das armas, Sir Arthur também pode encontrar armaduras diferentes para vestir, que substituem sua armadura atual e conferem certos bônus como melhorias para as armas (flechas teleguiadas para a besta, por exemplo), poderes especiais e até um escudo para proteger de certos projéteis.
Apesar disso tudo, Sir Arthur é bem frágil: Basta apenas um golpe de qualquer criatura para que sua armadura se despedace, deixando-o apenas com sua roupa de baixo. Depois disso, mais um golpe faz com que Sir Arthur se reduza a uma pilha de ossos.
A grande dificuldade de Super Ghouls ‘n Ghosts provém do controle rígido, misturado com um pouco da fragilidade do protagonista, as vidas e “continues” limitados e a quantidade exorbitante de criaturas que aparecem. A saga é famosa, ou melhor, infame, por ter inimigos que “respawnam” (de ‘respawn’ – reaparecem depois de derrotados) constantemente, além de aparecerem em lugares completamente inesperados. Não é algo exclusivo ao jogo, já existiam exemplos como Ninja Gaiden ou Mega Man que também partilhavam do mesmo problema, mas Super Ghouls ‘n Ghosts realmente não perdoa: Fantasmas reaparecem constantemente e em grandes grupos, goblins caem do céu logo acima do protagonista, ogros com machados aparecem exatamente no ponto onde o jogador decidiu aterrissar, e gárgulas vermelhas (os infames Red Arremers/Red Gargoyles) mudam suas estratégias com cada movimento que você faz – e isso são só alguns exemplos! Por conta disso e do contador de tempo pouco a pouco diminuindo, o jogo possui um sentimento de urgência bem estabelecido. Ficar parado equivale a morte, então mexa-se e não olhe para trás!
Todo mundo te odeia, Red Gargoyle. Só o Firebrand se salva.
O jogo possui oito fases, cada uma com um grande chefe esperando ao fim. Porém, após chegar na sétima fase e derrotar Astaroth e Nebiroth, os comandantes do Imperador Sardius, Sir Arthur recebe uma comunicação da Princesa Prin Prin, que lhe informa que Arthur precisará do Bracelete da Deusa (“Goddess Bracelet”), a única arma que pode derrotar Sardius (e por isso Sardius quer saber o paradeiro do Bracelete). Pensando nisso, Prin Prin deixou o Bracelete durante o caminho até o palácio do Imperador, o que significa que Sir Arthur precisará passar novamente por todo o caminho que já passou. Ou seja, você precisa passar as sete fases DE NOVO. E não só isso: Durante as fases, você precisa encontrar o Bracelete. Como encontrá-lo? Nos baús de armas, é claro (e o jogo não diz nada sobre isso)! Mas o Bracelete só aparece depois que Arthur estiver com a armadura dourada (a mais poderosa) e o melhor escudo, e só depois disso o Bracelete aparecerá. E cuidado: Se pegar outra arma enquanto está com o Bracelete, essa arma irá substituí-lo, ou seja, você precisa achar a armadura dourada E o escudo MAIS UMA VEZ para finalmente ter o Bracelete com você. E só um pequeno detalhe: Astaroth e Nebiroth ficam duas vezes mais difíceis de serem enfrentados com o Bracelete, e o tempo da última fase é severamente limitado.
Deu pra entender a fama de difícil do jogo?
Super Ghouls ‘n Ghosts é um clássico do SNES que, apesar de sua dificuldade exagerada (principalmente próximo do final), é uma aventura muito recompensadora de triunfar. Cada terreno atravessado, cada grande chefe derrotado que explode e deixa uma chave que leva à próxima fase é uma sensação de conquista e satisfação. O jogo definitivamente demanda certa prática e costume do jogador, mas a sensação de completá-lo vale a pena o esforço. O jogo está disponível para SNES, Game Boy Advance, 3DS via Virtual Console, na coletânea Capcom Classics Reloaded para o PSP e vem incluso nos jogos do SNES Mini.
A sorte está contra você… Você consegue vencer a revoada de criaturas demoníacas e derrotar o Imperador Sardius?
Confira o trailer para 3DS abaixo, e nosso #DensetsuIndica sobre sua spin-off Demon’s Crest aqui.
Artigo escrito por: Ítalo Magno