“Devil May Cry is back”. Foi com essas palavras durante a E3 2018 que o diretor Hideaki Itsuno anunciou, com a maior alegria do mundo, aquilo que os fãs de Devil May Cry estavam esperando havia uma década: um quinto jogo principal da série.
Com o anúncio realizado na maior feira de games, foram meses de ansiedade e, após muitas informações, demos e um trailer extremamente emocionante, o jogo finalmente foi lançado. Venha com a gente conferir por que Devil May Cry 5 é um jogo pelo qual valeu a pena esperar por todos esses longos 10 anos.
Gênese de uma história bela e simples
Em Devil May Cry 5 a história é apresentada com datas e horas, quase como em um seriado, com vários eventos acontecendo em diferentes momentos, alguns horas antes, outros até uma semana depois. Essa foi uma forma bem legal que os produtores decidiram usar para elevar a seriedade da narrativa. Além disso, temos também muitas ligações ao universo estendido da série, com referencias às diversas novels lançadas, ao anime, com personagens como Morrison e Patty sendo introduzidos aos jogos e até mesmo referencia aos outros títulos da série, desde o primeiro Devil May Cry.
Se passando na cidade Redgrave, a trama gira em torno de uma árvore demoníaca invocada por Urizen, um poderoso demônio que consegue derrotar os personagens principais e que, segundo V, roubou o braço demoníaco de Nero. Agora com um braço robótico e um mês depois de ter enfrentado o vilão, Nero, juntamente de Dante e do misterioso V, parte em uma batalha contra uma legião de inimigos em busca da revanche contra Urizen.
Isso é um resumo de quase tudo o que acontece nas 10 primeiras missões do jogo. A história é bem simples de ser seguida e até mesmo novatos da série irão conseguir acompanhar. Claro, é recomendado que o jogador tenha conhecimento dos títulos anteriores, mas caso isso não seja possível, o jogo oferece resumos dos primeiros quatro jogos para atualizar os novos fãs.
O gameplay é bastante semelhante ao de Devil May Cry 4, mas com adições que melhoram – e muito – o que já era uma ótima jogabilidade. Nero e Dante retornam como personagens jogáveis, com novidades que transformam os dois em versões melhores daquelas existentes no título anterior. Além deles, agora temos também V, um novo protagonista com uma jogabilidade única e bem diferente do que estamos acostumados a ver na série.
Nero — Braços para que te quero
Nero retorna com as mesmas armas do jogo anterior: sua confiável pistola Blue Rose e a poderosa espada Red Queen. Ambas as armas mantém as mesmas mecânicas, mas a Blue Rose perdeu a habilidade “Charged Shot” e agora é possível carregar 3 tiros poderosos por vez. Seu dano também foi aumentado, transformando-a em uma arma ainda mais útil. Já a Red Queen ganhou novas habilidades, mas suas antigas gimmicks permanecem intactas, diferenciando-se somente na facilidade para conseguir “Exceeds”, se comparada com a versão de DMC4.
A maior novidade do gameplay com Nero é o fato de que ele perdeu o seu braço direito demoníaco, o Devil Bringer, e no lugar dele temos os braços mecânicos coletivamente chamados de Devil Breaker. Esses braços são criados por Nico durante a história e cada um deles permite que Nero faça algo diferente, adicionando variedade ao seu moveset, que era um dos problemas do personagem em DMC4. Existem 8 tipos de braços diferentes e cada um tem uma habilidade única que ajuda a estender os combos, ranks ou causar grande dano aos inimigos.
Antes da missão começar, o jogador pode adquirir novos braços ou mudar aqueles que gostaria de levar durante a fase. No entanto, é importante se atentar à ordem de seleção, pois a única forma de trocar de braço durante a ação é quebrando o Devil Breaker escolhido. Para isso, o jogador tem duas opções: quebrar propositalmente apertando L1 – que também serve para escapar de alguns ataques de inimigos e bosses – ou tomar dano enquanto usa a ação do braço.
Na minha opinião, isso é algo que acaba fazendo com que o sistema de braços mecânicos perca um pouco do seu brilho. É claro, o jogador nunca é forçado a ter que quebrar os seus braços, mas fica óbvio que alguns não são tão úteis assim para certos inimigos. O fato do jogo te forçar a perder um de seus braços ao invés de ter um botão de troca acaba – e muito – com as opções de combo, fazendo com que Nero continue não sendo o melhor personagem para “combar”.
Embora seja possível encontrar braços pelas fases e reabastecer com a Nico, no fim isso tudo parece ter sido colocado ali só para existir uma “falha” que futuramente pode ser “consertada” em outros jogos.
Dante — Rei do DMC
Dante, assim como Nero, também volta praticamente idêntico à sua versão de Devil May Cry 4, continuando com as pistolas Ebony e Ivory, a espingarda serrada Coyote-A e a espada Rebellion. Como é tradição da série, Dante adquire novas armas em Devil May Cry 5, como a manopla/bota Balrog, as bazucas Kalina Ann, o chapéu Dr. Faust, a motocicleta e serra elétrica Cavaliere, o nunchaku King Cerberus e ainda uma nova arma importantíssima para a história. Além de todo esse arsenal, a espada demoníaca Sparda de jogos anteriores também retorna.
O gameplay de Dante continua estiloso e o caçador de demônios pode alternar entre 4 sistemas de habilidades diferentes com um simples toque nos botões direcionais. Entre os estilos temos: Trickster, focado em movimentos para se aproximar e afastar dos inimigos; Swordmaster, focado em ataques precisos e especiais com as armas de curta distância; Gunslinger, que melhora as habilidades das armas de longa distância; e Royalguard, que serve para defender ataques dos oponentes e então desferir um poderoso counter. Se o jogador conseguir ficar habilidoso no sistema de estilos, manter seu rank em alto nível não será um problema.
Além dos estilos e as armas, Dante também conta com sua transformação Devil Trigger, que não apenas aumenta o poder de seus ataques, mas também ajuda a regenerar o HP perdido, o que é muito útil visto que os itens de cura foram eliminados do jogo.
V — O charmoso poeta
O terceiro personagem, chamado simplesmente de V, é a surpresa do jogo. Seu estilo de gameplay é o extremo oposto de Dante e Nero. Enquanto os dois possuem um foco em combos rápidos e têm diversas habilidades que os permitem ser ligeiros, V é mais “pé no chão” e calmo. Isso porque ele não luta com suas próprias mãos, ele usa dois demônios para atacar e derrotar os seus inimigos: Gryphon, um pássaro azul falante e também um dos melhores personagens do jogo, possuindo algumas das falas mais hilárias e boas de se ouvir; e Shadow, uma pantera negra que possui garras enormes e permite que V se mova mais rápido. Fãs mais velhos da série irão reconhecê-los, já que ambos foram baseados nos chefes de mesmo nome do primeiro Devil May Cry.
Cada invocação é ligada a um dos botões de ataque: Gryphon com seus ataques de longa distância é comandado com quadrado, enquanto o triângulo faz com que Shadow ataque. Esses dois botões são a base do gameplay de V e não é errado dizer que o personagem incorpora o button mash do jogo, mas há algo que deve ser notado: os inimigos só morrem quando V lhes aplica um golpe final. Primeiro deve-se usar Gryphon ou Shadow para enfraquecer o inimigo e quando ele estiver para morrer, você verá um circulo vermelho. Essa é a deixa para que o jogador se aproxime com V e aperte bolinha para matá-lo em um só hit. Dessa forma, é importante manter V em uma posição favorável aos adversários, pois eles não ficam neste estado enfraquecido por muito tempo.
V, assim como Dante, também possui uma barra de poder demoníaco que serve para ativar seu Devil Trigger. Nessa forma, V fica com cabelos brancos e pode invocar um terceiro e mais poderoso demônio: Nightmare, um monstro incontrolável que serve para eliminar inimigos mais chatos ou causar alto dano em chefões. Além disso, caso o jogador prefira, ele pode sacrificar um pouco da barra de poder demoníaco para fazer com que uma das duas invocações de V ataque os adversários com golpes ainda mais poderosos do que o normal. Isso pode parecer um mau uso do poder demoníaco, mas não se preocupe, V consegue recuperá-lo muito facilmente, seja matando inimigos ou com um simples segurar do R2.
Gameplay cooperativo, frenético e divertido
Uma das principais mudanças presentes no gameplay de Devil May Cry 5 é a eliminação dos itens de cura, o que pode trazer um pouco de dificuldade para os fãs mais casuais acostumados com itens vindo em mãos quando algum inimigo poderoso aparecia. Para recuperar a vida, jogadores têm duas opções: encontrar Green Orbs pelas fases ou ativar a transformação Devil Trigger dos personagens.
Caso o jogador acabe morrendo, ele poderá voltar à vida pagando com Red Orbs ou usar uma Gold Orb para ressuscitar com vida e Devil Trigger totalmente recarregados, além de restaurar todos os braços quebrados de Nero. As Gold Orbs podem ser encontradas escondidas pelas fases, adquiridas como bônus diário ao entrar no jogo ou através de curtidas de pessoas que você encontrou online. Vale lembrar, no entanto, que o uso de Orbs afeta o rank no final de cada missão.
Outra novidade é o “Cameo System”, um protótipo de co-op onde durante algumas missões jogadores podem se encontrar e derrotar inimigos juntos. Esse sistema funciona tanto online quanto offline — caso o jogador não encontre alguém online, ele irá receber “dados fantasmas”, seja de outros jogadores ou dele mesmo.
É um sistema interessante para jogos do tipo, mas que peca por depender muito do timing para que seja possível jogar com amigos. Apenas na missão 13 existe um ponto onde os três personagens conseguem se encontrar e lutar juntos, por exemplo. Essa adição acabou parecendo ter sido feita nas coxas.
Além do gameplay frenético, os jogadores também podem aproveitar uma galeria cheia de informações sobre personagens, história, inimigos, além de ler cartas que explicam um pouco sobre a narrativa do jogo e revelam novidades sobre o elenco que já conhecemos. É um prato cheio para os fãs da série em geral, principalmente porque essas informações dão novos detalhes a respeito de eventos e personagens presentes em jogos anteriores.
Trilha sonora — “Pull my Devil Trigger“
Um dos pontos positivo de Devil May Cry 5 é sua trilha sonora que, assim como nos jogos anteriores, continua fantástica. Devil Trigger, o tema de batalha de Nero que conhecemos desde o trailer de revelação, certamente vai te conquistar. A canção possui três versões diferentes dentro do jogo, sendo aquela presente na introdução uma das melhores.
Já Subhuman, o tema de Dante, passou por algumas controvérsias e, após muita reclamação por parte dos fãs em relação a versão original, finalmente se transformou em uma das melhores musicas da trilha. É praticamente impossível não se empolgar ao atingir o Rank S e ouvir “YOU CANNOT KILL ME, I AM OMEGA”.
O tema de V, Crimson Cloud, é uma surpresa agradável que combina perfeitamente com o personagem. Continuando com o mesmo estilo musical dos outros dois, esta é outra música que é difícil de tirar da cabeça, principalmente graças ao refrão.
Além dessas, outra que vale a pena mencionar é Legacy, a música tema principal do jogo que com certeza vai causar muitas emoções ao jogador. Trazendo um tom triste acompanhado por um violino, a canção possui uma letra que representa muito bem a trama de DMC5. Além dessa, temos Silver Bullet, um remix de “Devil Trigger” que toca durante a batalha final.
Em Devil May Cry 5, a música é alterada de acordo com o ranking atingido pelo jogador durante as batalhas. Quanto mais alta for a pontuação, mais animada a canção se tornará. Essa característica é bem interessante e faz com que o jogador queira sempre melhorar para poder ouvir as partes mais legais das três faixas principais. Afinal, nada melhor do que alcançar uma boa posição e celebrar com o refrão tocando a todo vapor.
Pequenos problemas
Apesar de todas essas características positivas, Devil May Cry 5 tem sim seus defeitos. A começar pela iluminação padrão do jogo que é bem ruim em certas partes, deixando tudo mais escuro do que o normal e tornando difícil enxergar algumas coisas.
Outro problema está presente nos cenários. Em geral eles não possuem muita variedade e são bastante parecidos, o que acaba sendo um pouco enjoativo em alguns momentos. Além disso, a maioria é composta simplesmente por tons escuros e avermelhados.
O gameplay é divertido, mas possui pequenos problemas, como a já mencionada falta de habilidade para mudar os braços de Nero sem ter que perdê-los. A jogabilidade de V, apesar de ser diferente do que estamos acostumados a ver na franquia, é resumida somente a pressionar 2 botões para alcançar o rank SSS, o que poderia ter sido melhor trabalhado durante o desenvolvimento do jogo.
Mesmo assim, seus defeitos são tão singelos que Devil May Cry 5 consegue ser um jogo fantástico, especialmente se considerarmos que foi algo esperado pelos fãs da série há mais de uma década. O título não decepciona, trazendo de volta Dante, Nero e companhia em grande estilo e de forma excepcional. Esta é a maior prova de que a Capcom está voltando a ser aquela grande empresa de antigamente.
Devil May Cry 5 é um dos melhores lançamentos de 2019 até o momento. Com seu gameplay rápido e divertido, personagens carismáticos e uma curva de dificuldade não tão elevada, o jogo é perfeito para fãs de hack and slash e com certeza colocou um novo patamar de excelência no gênero. A obra é uma porta de entrada perfeita para aqueles que nunca jogaram a série, além de trazer novos combos e estilos para entreter e emocionar os veteranos por um bom tempo.
Versão utilizada para análise: PlayStation 4 (base)