Quando muitos pensam em Nintendo, a imagem de jogos amigáveis, com uma atmosfera descontraída e animada vem à mente. No entanto, um RPG específico foge dessa regra: Xenoblade Chronicles 2. É sobre esse incrível jogo sobre o qual falaremos no Densetsu Indica de hoje.
Em 2007, a Nintendo adquiriu a Monolith Soft e os fãs subsequentemente tiveram uma baita surpresa quando o Wii recebeu aquele que seria um dos melhores jogos da geração. Com uma das histórias mais obscuras e profundas que os consoles da empresa já haviam recebido até aquele momento, Xenoblade Chronicles ganhava seu lugar ao sol.
O jogo logo tornou-se um clássico do console e um dos jogos mais raros, com unidades sendo vendidas a preços absurdos. Não demorou muito para que uma continuação fosse anunciada e, em 2018, chegou um dos primeiros títulos do Nintendo Switch.
Vamos para Elysium
Xenoblade, assim como suas séries antecessoras Xenosaga e Xenogears, é conhecida por ter histórias que geram questionamentos filosóficos e religiosos. Não é de se estranhar que existam diversas discussões em fóruns espalhados pela internet sobre os vários temas abordados pela franquia.
Apesar da trama inicial ser bem simples, com o tradicional clichê de “garoto encontra garota”, o que diferencia o jogo dos demais é a profundidade de suas questões morais e éticas que o jogo traz consigo.
Temáticas como suicídio, desespero, solidão, traição e o quanto o poder corrompe, são levantadas em diversos pontos durante a jornada. O game é bem profundo em algumas de suas questões, mesmo que seu exterior mostre apenas uma estética de anime.
A história acontece no planeta Alrest, um mundo coberto por um mar de nuvens chamado de “Cloud Sea” e que não possui terra firme. Há milhares de anos, o deus do mundo (o Arquiteto) criou os titãs para permitir que humanos e outras raças de Alrest pudessem viver seguros e em paz, pois o Cloud Sea esconde muitos perigos.
Além disso, ele também criou as “Blades”, seres vivos que existem dentro de cristais e precisam de um humano para serem despertados. Os humanos que despertam esses seres tornam-se “Drivers” e têm suas vidas ligadas à sua invocação. Caso o invocador morra, a mesma volta para o seu cristal e o processo se repete.
Anos após esses acontecimentos, seguimos a história de Rex, um jovem que trabalha como coletor, alguém que mergulha no Cloud Sea para encontrar tesouros perdidos e outros itens valiosos. O protagonista, que atualmente vive nas costas de um titã chamado carinhosamente de Vovô pelo garoto, recebe uma proposta de trabalho para encontrar um navio. Seus empregadores são o misterioso grupo Torna, composto pelo espadachim Jin e o Driver Malos.
Rex aceita o trabalho e, dentro de um navio, encontra uma garota adormecida em um cristal. Ao despertá-la, o jovem é morto por Jin e acaba se encontrando em uma dimensão mental, onde a garota explica que ela é a lendária Blade Aegis chamada Pyra, a detentora do poder do Arquiteto que quase levou o mundo à ruína há 500 anos.
Pyra faz um acordo com Rex, oferecendo metade de sua vida em troca de ele levá-la até Elysium, um lugar no topo da grande árvore no centro do planeta onde dizem que vive o deus do mundo. O protagonista aceita, recupera sua vida, e os dois se unem para derrotar o grupo Torna e embarcar em uma longa jornada onde conhecerão uma variedade de novos aliados.
A evolução desses personagens não é a única coisa que move o jogo, mas também a história geral que trata sobre o relacionamento entre Blades e Drivers, o medo de si mesmo, preconceitos, etc.
Apesar disso, o jogo sabe quando deve aliviar a tensão e quando deve ser mais sério para surpreender o jogador com uma boa história cheia de reviravoltas.
A história de Alrest é bastante interessante e é divertido aprender mais sobre esse fantástico mundo, desde seus habitantes que passam por diversas dificuldades até os titãs que estão lentamente morrendo um por um e causando vários problemas. Esses são elementos que definem um bom JRPG, o que Xenoblade Chronicles 2 certamente se prova ser.
Um gacha fora dos celulares
O gameplay do jogo é inspirado por MMOs (jogos online de múltiplos jogadores em massa) e possui muitas influências vindas diretamente de Final Fantasy XII. Por isso existem muitas mecânicas e influências desse estilo como ataques automáticos, habilidades de campo, inimigos de altíssimo nível logo no início do jogo, etc.
Algo que interfere demais em alguns aspectos da jogabilidade como exploração, batalha e a possibilidade de completar algumas missões secundárias, é um sistema relacionado diretamente às Blades: um sistema de recompensa aleatória, semelhante a um “gacha”, igual ao empregado em diversos jogos mobile que fazem tanto sucesso no Japão.
Para adquirir uma Blade, os jogadores precisam de um item chamado Core Crystal, em seguida eles devem escolher qual personagem despertará a invocação e então, finalmente, o tipo de core utilizado. Existem três tipos diferentes: normal, raro e lendário. Cada uma delas tem uma chance de ser invocada, com os três tipos de Core Crystals e o personagem influenciando no tipo que será obtido, exceto em alguns casos.
É aí que está o maior ponto negativo do game. Apesar de cada Core influenciar nas chances de sucesso, a diferença não é significativa. Mesmo usando Core Crystals lendários, as chances de você conseguir uma Blade normal ainda serão mais altas do que uma rara. Este é um sistema que desde o lançamento do jogo recebeu grandes críticas e que apesar dos diversos aprimoramentos, nunca foi mudado.
Para alguns jogadores, isso não é um problema pois serve como um incentivo extra para jogar o game por mais tempo. Mas algumas das melhores Blades estão trancadas atrás de ridículos índices de sucesso. Um exemplo desse problema é Kos-Mos, a protagonista de Xenosaga, que é uma unidade rara do elemento luz, cuja chance de invocação é extremamente baixa.
Após despertar uma Blade, ela fica trancada com o personagem que a despertou, podendo ser transferida para outro ao utilizar um certo item. Cada personagem pode fazer uso de até três invocações de cada vez durante o combate e isso é uma grande parte do sistema, com cada uma possuindo sua própria arma, elemento e “Artes”.
Cada uma das armas, divididas entre espadas, katana, escudos, martelos e outras, possuem três Artes que podem subir de nível para aumentar o seu dano ou adicionar efeitos extras.
Além disso, Blades possuem elementos de fogo, vento, água, gelo, raio, trevas e luz. Elas também contam com diferentes estilos de jogabilidade como ataque, que são as melhores para dar altos danos nos inimigos, tanques, que focam em atrair a atenção do inimigo para si, e curandeiras, que executam Artes para curar os aliados e a si mesmas. Cada personagem tem seu próprio estilo, mas jogadores são livres para usar as Blades que quiserem.
O outro uso das invocações está nos mapas de exploração, onde certos obstáculos e itens extras podem ser adquiridos utilizando uma das muitas habilidades que elas possuem. Cada uma possui habilidades úteis como abrir caminhos ou localizar certos itens e, infelizmente, durante a história algumas dessas técnicas serão requeridas.
Além desses dois usos, são elas que determinam o poder do personagem na batalha. Apesar dos personagens terem atributos que são aumentados a cada nível, eles só ficam fortes mesmo na batalhas equipando poderosas invocações.
Blades ganham confiança conforme elas lutam e passam tempo equipadas, conforme a confiança sobe, elas abrem a possibilidade de subir o nível das habilidades. Para subi-las de nível, o jogador deve realizar algo que a unidade invocada pede, seja participar de batalhas, matar inimigos, ou conversar com NPCs, por exemplo.
As influências do sistema de batalha
O sistema de batalha é remanescente de MMOs, onde os personagens realizam ataques automáticos que podem aumentar seu dano a cada aprimoramento de arma. Tudo o que o jogador pode fazer é ativar as Artes quando elas ficam disponíveis. Certamente pode-se jogar o game inteiro dessa maneira e apesar de ser difícil, é possível completá-lo e enfrentar alguns dos mais poderosos inimigos assim.
Caso você queira se aprofundar no sistema, saiba que você encontrará algo bastante rico em ações extras. Ademais, há duas principais coisas que os jogadores devem prestar atenção enquanto enfrentam os inimigos — elementos e atributos.
Com o uso de ataques e Artes, uma barra de até quatro níveis de uma técnica especial é preenchida. Ao usá-la pela primeira vez em batalha, jogadores entram em um “combo”, onde podem combinar até outros dois especiais para um ataque final poderoso. O resultado é influenciado pelo elemento, com algumas combinações bem simples envolvendo três habilidades do mesmo elemento ou colocando outros elementos na mistura.
Outro fator interessante é a existência de estados de enfraquecimento dos inimigos que, quando combinados, podem aumentar o dano causado pela equipe do jogador. O bom uso desses pontos fracos é essencial para facilitar o combate contra inimigos mais poderosos.
Aspectos técnicos
Xenoblade Chronicles 2 possui ótimos gráficos para um jogo de Switch, principalmente se levarmos em conta que o jogo possui mapas enormes. O estilo artístico escolhido para o game dá um tom mais “anime” se comparado com seu antecessor, mas ainda transmite uma certa maturidade.
Onde o estilo de arte mais brilha é no design de personagens. Aqui, o diretor Tetsuya Takahashi decidiu convidar diversos artistas, sejam de outras empresas ou que nunca trabalharam antes com videogames. Entre eles há nomes famosos como Minoru Iwamoto (Tales of Vesperia), Ryōsuke Aiba (Final Fantasy XIV), Shirabii (Fate/Grand Order) e Tetsuya Nomura (Kingdom Hearts) que criou o design do grupo terrorista Torna.
Como todo bom jogo, a obra possui uma ótima trilha sonora. Composta por uma equipe de músicos talentosos como ACE, Yasunori Mitsuda (Chrono Trigger) e Manami Kiyota (Super Smash Bros. Ultimate). Todos os mapas do game possuem duas variações, uma para o dia e outra para a noite, o que ajuda na imersão e faz com que as músicas não se tornem repetitivas.
Fãs do Nintendo Switch que desejam um RPG extremamente longo estarão em casa com Xenoblade Chronicles 2. Ele é bem acessível, tem elementos que agradarão fãs do gênero e é uma das boas opções na lista de jogos da plataforma.
Se você nunca jogou os jogos Xeno, esse é um ótimo jogo para começar. Por outro lado, se você já é fã, saiba que o novo título é tão bom quanto os outros jogos desenvolvidos pela Monolith Soft.