A review de hoje é um pouco especial por ser a primeira vez que tratamos de um jogo mobile: o RPG de ritmo Love Live! All Stars.
Lançado durante um dos anos mais importantes de uma das maiores franquias multigênero do Japão, o título chegou como sucessor de um verdadeiro fenômeno ao redor do mundo, um outro jogo de ritmo intitulado Love Live! School Idol Festival. Carregando o fardo de seu antecessor ter abrigado mais de 40 milhões de jogadores ao redor do mundo, All Stars tinha que inovar.
Dessa forma, a KLab Games, desenvolvedora também do jogo anterior, resolveu modernizar a franquia, trazendo modelos 3D pela primeira vez à versão mobile da série. Além disso, a jogabilidade gacha (roleta de personagens) e de ritmo, típica dos jogos anteriores, deixou de ser o foco.
Assim, o novo título passou a ser tratado como um “jogo de ação estratégica de ritmo”, segundo a própria desenvolvedora. Por bater constantemente na tecla de que a novidade não era um jogo de ritmo, isso acabou se tornando uma espécie de meme entre os fãs, que constantemente repetiam a frase em deboche. Afinal, do que se trata All Stars?
Não é um jogo de ritmo… bem, mais ou menos
É um pouco ousado dizer que o novo game não é de ritmo, afinal, a franquia gira ao redor da música e apresentações de idols. Contudo, de maneira distinta ao que os jogadores da série estavam acostumados, agora é necessário se preocupar com mais do que apenas acertar as notas no tempo certo.
Diversas mecânicas de RPG estão presentes no game, como atributos complexos e uma grande árvore de habilidades exclusiva de cada personagem. Dessa forma, alguns itens devem ser coletados para “alimentar” as capacidades de cada idol, sendo diferenciados por tipo.
Os itens incluem diversos tipos de doces e outros objetos que remetem a eventos conhecidos pelos fãs. Assim, cada célula da árvore de habilidades requer determinados objetos para ser desbloqueada, além de uma certa quantidade do dinheiro do jogo.
A coleta desses recursos pode ser feita através da conclusão de missões diárias, por meio da tela de treinamento (onde novas habilidades também podem ser desbloqueadas), participando de eventos ou, simplesmente, completando músicas.
Decida bem quem merece os holofotes
Quando o jogador precisar levar seu grupo aos palcos para apresentar uma música, vários fatores devem ser levados em consideração, trazendo à tona o elemento estratégico do jogo. Ao formular uma equipe de nove integrantes, seus tipos, técnicas passivas, habilidades e acessórios afetarão o resultado final.
Assim, não é mais possível ter boas pontuações apenas por coletar boas cartas, mas planejamento e sinergia também terão um papel importante na jogabilidade. Usar uma equipe composta de um determinado atributo em uma música do mesmo tipo gera um bônus de pontuação, por exemplo.
Em músicas com muitas notas, uma composição focada em proteger a energia do grupo pode ser ideal, enquanto apresentações mais lentas incentivam o uso de equipes focadas em pontuação máxima. Fatores como esse são cruciais, especialmente para jogadores que almejam competição.
Dessa forma, também é possível a criação de grupos estratégicos dentro de suas composições. Estas células menores dentro da equipe agem como o trio ativo em determinados momentos e podem ser trocados por uma outra subunidade de acordo com a estratégia. Por padrão, o jogador dispõe dos grupos azul, verde e vermelho.
Assim, o jogador pode utilizar, por exemplo, um destes grupos focados em resistência, outro composto de três integrantes com habilidades que favorecem o ganho de pontos e um terceiro grupo com capacidades curativas. Enquanto uma formação estiver em ação, apenas as habilidades de seus membros poderão ser ativadas.
Enfim, as nove esferas de ritmo utilizadas no jogo anterior foram substituídas por apenas duas. A decisão para aplicar essa simplificação pode ter sido motivada pelo desejo de exibir melhor as coreografias detalhadas dos modelos 3D das personagens, já que esse é um dos pontos mais chamativos do game. Vale ressaltar que todas as apresentações são baseadas na rotina real dos shows de Love Live!.
As três gerações reunidas
Um outro fator que teve um papel importante na expectativa dos fãs pelo novo jogo foi a presença das três gerações da série reunidas. Com seu início em agosto de 2010, a franquia costuma trocar suas nove personagens principais a cada temporada (composta grosseiramente de 5 anos). Assim, os três grupos, μ’s (muses), Aqours (aqua) e Nijigasaki estariam, pela primeira vez, disponíveis em um mesmo título.
Ao passo que isso é um fato inédito, é possível mesclar personagens de diferentes gerações e recriar apresentações com formações distintas.
Permeado por uma cultura de “oshimen”, termo usado popularmente para se referir à idol favorita de um fã, o game permite reunir suas personagens favoritas dentre todas as 27 em um mesmo grupo.
Tanto o trailer de anúncio do game quanto o show comemorativo “Love Live! Fest 2020” focaram nessa atmosfera mágica de ter as três gerações reunidas. Com a separação do grupo original da franquia em 2015, a decisão de reunir suas integrantes com as de gerações mais recentes trouxe de volta também muitos fãs de longa data.
Dessa forma, é provável que antigos jogadores do primeiro jogo mobile acabem por retornar à franquia com o lançamento do novo título. Esse potencial de agradar igualmente os fãs novos e veteranos pode ser o diferencial para o game.
Os potenciais problemas
Apesar de todas as novidades interessantes, All Stars também tem seus defeitos que podem se tornar perigosos no futuro. Um deles é a prática questionável de disponibilizar banners de recrutamento exclusivos para recursos pagos.
As gemas em forma de estrela são a moeda utilizada para participar do famoso “gacha”, onde o jogador tem a chance de receber personagens de diferentes raridades. As classificações, como de costume em jogos do tipo, vão de “R” (Rare) até “UR” (Ultra Rare), com chances baseadas nessas indicações.
Atualmente, as chances de se obter uma carta de nível máximo são em média de 5% a cada tentativa. De acordo com os desenvolvedores, essas chances são iguais tanto para recursos adquiridos por dinheiro real quanto para gemas recebidas pela conclusão de missões dentro do jogo.
Contudo, mesmo que o relato seja verdadeiro, a presença de banners exclusivos para jogadores pagantes pode ser bem frustrante para aqueles que não podem ou não querem investir dinheiro no game.
O verdadeiro fator preocupante com relação a essa exclusividade é a possibilidade de que o jogo passe a oferecer conteúdo somente para pagantes no futuro. O lançamento de personagens novas acontecer por meio dos banners pagos antes de serem disponibilizadas gratuitamente também é um cenário preocupante.
Love Live! All Stars traz inovações impressionantes para uma série muito bem sucedida que precisava de mudanças. É um jogo mobile capaz de prender o jogador por muito tempo, algo invejável para plataformas móveis.
Ver as 27 idols reunidas e poder formar grupos com elas é muito satisfatório e oferece um prato cheio aos fãs. Vamos torcer para que as sombras geradas pelos seus defeitos não se desenvolvam com o passar do tempo.