Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories, lançado no Japão no final de 1999, é mais um dos títulos inspirados no mangá de grande sucesso. Devido a diversas peculiaridades, ele guarda um lugar especial na mente de seus fãs.
Ao ver como é seu nome no Japão, Shin Duel Monsters: Fuuinsareshi Kioku (“Verdadeiros Monstros de Duelo: As Memórias Seladas”, em tradução livre), é possível reconhecê-lo como parte da série de jogos Duel Monsters. Os dois primeiros títulos desta série saíram apenas no Japão para o Game Boy, enquanto Forbidden Memories é exclusivo do PlayStation e foi lançado internacionalmente.
Assim como os jogos anteriores, o título foi produzido antes da franquia estrear seu jogo de cartas oficial. Por isso, ele ainda utiliza regras provisórias e acaba tendo suas próprias camadas de profundidade. Desta forma, é possível fazer um paralelo interessante com o recém anunciado Yu-Gi-Oh! Master Duel, que é um simulador das regras atuais.
A vez do faraó
Para os não familiarizados com a franquia e mangá originais, a trama original de Yu-Gi-Oh! se passa nos tempos atuais e acompanha a história do jovem Yugi Muto. Ao solucionar o quebra-cabeça de uma relíquia egípcia, o chamado “Enigma do Milênio”, o garoto conecta a sua alma com a de um antigo faraó que estava selada no item. Esse espírito é extremamente habilidoso com jogos e passa a ajudar o herói a superar diversos desafios em sua vida.
Enquanto a maioria dos jogos busca, de uma forma ou outra, adaptar essa história do popular mangá e anime, Forbidden Memories traça um caminho diferente. Ao invés de seguir as aventuras de Yugi e seus amigos, neste título, jogadores encarnam no papel do próprio faraó em uma trama original que, em maior parte, se passa no antigo Egito.
Após ser aprisionado no Enigma, o faraó deve voltar ao passado para finalmente livrar seu reino das mão do terrível mago Heishin. Para conquistar esse objetivo, será necessário vencer os lacaios do vilão em diversos duelos com cartas de monstros
As partidas utilizam as regras básicas do jogo de cartas oficial, com o jogador intercalando turnos até que seu oponente perca todos os pontos de vida ou fique sem cartas em seu baralho. Entretanto, são as mecânicas especiais do título que o destacam entre os vários outros jogos da franquia.
Hora do duelo
Nesta primeira versão dos duelos, só é possível colocar uma carta no campo por turno, independente de seu tipo. Além disso, os monstros possuem um atributo extra: a “Guardian Star”. Quando a criatura entra em campo, o jogador seleciona um de dois astros possíveis, com cada um tendo uma relação de força e fraqueza entre si, semelhante a um jogo de jokenpô.
Saber como interagem essas “estrelas” pode significar a derrota ou a vitória, já que, caso a estrela do seu monstro seja forte contra a do oponente, ele ganha 500 pontos de ataque e defesa. Igualmente, se esta for mais fraca, o monstro dele ganha o mesmo valor. Porém, a principal mecânica do título é, com toda a certeza, seu sistema de fusão.
Diferente do jogo oficial, não é necessário o uso da magia “Polymerization” para executar uma fusão. Basta selecionar mais de uma carta na sua mão e, caso sejam compatíveis, elas se tornarão uma carta diferente.
As fusões do título não dependem necessariamente dos nomes das cartas, mas principalmente de suas categorias. Por exemplo: uma carta fraca do tipo “dragão”, ao se aliar com uma “trovão”, sempre assumirá a forma de “Thunder Dragon”, sem a necessidade de usar monstros específicos como material para a fusão. Mesmo assim, ainda é possível fundir cartas que precisam de criaturas únicas.
Apesar de parecer um pouco aleatório à primeira vista, é bem divertido experimentar e perceber os padrões das fusões do título, que conta até com fusão de magias. Além disso, o jogador não deve se preocupar em ficar em desvantagem por gastar muitas cartas de sua mão, pois compra-se cartas até ficar com o total de cinco no início de cada turno.
Ao fim do duelo, o jogador pode conferir sua nota e uma categoria dependendo de sua velocidade para obter a vitória e uso de estratégias com cartas de magia e armadilha. Recebida a classificação, o duelista vitorioso é recompensado com uma carta aleatória de seu oponente.
O principal uso desta função está no modo “Free Duel”, no qual é possível duelar livremente contra oponentes já derrotados para obter cartas mais fortes. Há também um duelista extra chamado “Duel Master K”, que usa as mesmas cartas que o jogador, sendo este um ótimo jeito de aprender fusões novas para o seu baralho.
Além das mecânicas, outro ponto que torna o título tão marcante é sua dificuldade elevada. Um dos fatores que contribuem para torná-lo assim tão desafiador é a total falta de tutoriais. Isso mesmo, tudo o que já expliquei aqui não é mencionado nenhuma vez no jogo em si, apenas em seu manual de instruções impresso (quem lembra quando esses eram comuns?).
Só lembrando, oponentes também se comportam como duelistas normais e, portanto, também são capazes de fundir seus monstros. Caminhando para o final do jogo, não é incomum ver esses adversários invocando criaturas com 3,000 pontos de ataque ou mais. Isso se torna um problema maior para jogadores fora do Japão, já que um componente muito importante do jogo foi removido em sua versão ocidental.
O que faltava
Em dezembro de 1998, a Sony lançou no Japão o PocketStation, um periférico que interagia com os jogos do PlayStation na época e até oferecia recompensas em certos títulos. Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories, claro, foi um destes. Ao usar o aparelho, era possível fundir permanentemente diversas carta poderosíssimas, como o “Blue-Eyes Ultimate Dragon” com incríveis 4,500 pontos de ataque.
No entanto, como o PocketStation nunca foi lançado fora do Japão, a opção do menu que interagia com ele foi apagada na versão ocidental. Assim, diversas cartas ficaram inacessíveis, já que é impossível consegui-las como recompensa em duelos. Para piorar, o sistema de troca do jogo também não ajudava.
No menu de trocas é possível colocar o código presente nas cartas físicas de Yu-Gi-Oh! e comprá-las dentro do jogo por meio de “Star Chips”, uma espécie de moeda dada ao fim dos duelos. É possível ganhar até cinco de uma vez, caso se obtenha a nota máxima.
Então, teoricamente, é possível conseguir essas cartas fortes caso se tenha acesso ao número impresso na carta física. Entretanto, na prática, isto é inviável, já que todas as cartas fortes custam 999,999 Star Chips, um valor quase impossível de se obter, especialmente múltiplas vezes.
Antes tarde do que nunca
De qualquer forma, nem tudo está perdido. Hoje em dia é mais do que possível vencer o jogo sem a necessidade de programas de trapaça, como era comum na época. Tudo graças às comunidades online de amantes do jogo e, principalmente, aos speedrunners, jogadores que competem para descobrir quem consegue finalizar determinado game o mais rápido possível.
Em 2014 iniciou-se uma discussão nos fóruns Neoseeker, onde debatia-se se era possível diminuir ainda mais o tempo recorde da época, que era de aproximadamente quatro horas. Com isso, vários detalhes sobre o funcionamento do jogo, incluindo a forma como ele calcula a maior parte de suas recompensas após duelos, foram sendo descobertas. O equivalente entre fãs de jogos antigos na internet a arqueólogos escavando as ruínas de uma civilização antiga.
Graças às informações reveladas, o recorde mundial já chegou a uma hora e sete minutos em março de 2021. Porém, esse conhecimento não é útil apenas para os maratonistas digitais, já que jogadores casuais agora também podem descobrir quais e onde novas cartas podem ser obtidas, tornando possíveis estratégias para vencer o jogo usando apenas as opções oferecidas.
O fim da lembrança
Fora das partidas também há o que se comentar. Graficamente, Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories não impressiona tanto hoje em dia, mas na época foi estrondoso. Além de diversas magias contarem com suas próprias animações, que deixam a ação na tela mais dinâmica, o título foi o primeiro a dar vida aos monstros da franquia com modelos 3D e animações de ataque.
Ao atacar um monstro adversário, se o jogador o fizer apertando o botão ▢ ao invés do ⨉, ocorre uma animação de combate entre as duas criaturas. Caso uma magia de campo esteja ativa, o cenário da cena mudará para refletir o da carta usada. Além disso, uma galeria no jogo permite ao jogador ver o modelo de cada monstro já obtido.
Se os gráficos parecem datados, um aspecto do título que sem mantém firme até hoje é sua trilha sonora. Contando com músicas de fundo mais calmas ou agitadas, dependendo da situação, é difícil se cansar ou enjoar durante diversas partidas.
Aliás, uma curiosidade: as canções dessa OST são tão queridas que muitas delas foram reaproveitadas em títulos subsequentes — Yu-Gi-Oh! Duelist of the Roses, lançado em 2001 para o PlayStation 2, e Falsebound Kingdom, de 2002 no Nintendo GameCube.
O que fica
Enfim, Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories ainda é uma experiência que vale a pena ser vivenciada por aqueles que gostam do antigo mangá, anime e jogo de cartas oficial da franquia. Com o anúncio de Master Duel, esta é uma ótima oportunidade para relembrar as origens da série, muito antes do surgimento de elementos mais complexos que o card game adotou em anos mais recentes.
Você chegou a jogar este clássico do PlayStation, ou será que é a primeira vez que ouve falar sobre o título? Compartilhe suas memórias seladas e proibidas nos comentários!