Dirigido e concebido por Keiichiro Toyama, o qual deu alma, corpo e forma a séries como Silent Hill e Siren, Gravity Rush, como é conhecido no ocidente (seu nome é Gravity Daze no oriente) foi planejado originalmente em 2008 para ser um game exclusivo do PlayStation 3. Neste mesmo ano em paralelo a Sony estava desenvolvendo o sucessor do PSP (PlayStation Portable). Então o chamado projeto Gravité teve um novo direcionamento: ser um dos títulos de lançamento deste novo portátil, conseguindo extrair o máximo que poderia do seu hardware na época.
O projeto era extremamente ambicioso em criar um mundo aberto totalmente em 3D para um portátil no qual você controlaria a gravidade em volta de sua protagonista. Mas em muito mais do que técnica esse jogo se resume, possuindo diversas influências de fora da cultura japonesa, como arquitetura francesa (além do próprio idioma do jogo ser uma mistura de francês com japonês), antigos templos Maias e um leve toque steampunk em seus mecanismos.
O enredo se inicia com uma misteriosa garota despertando em meio de um pequeno parque ao lado de um gato, sem lembranças, sem noção de onde está e nem de para onde vai. Pessoas a chamam de mutante, de forma pejorativa, como se aquilo já se tratasse de um problema ali. E sem ideia do que poderia vir a acontecer, ela segue seu caminho até se deparar com um homem chamado Syd, que lhe dá o nome de Kat! Assim se segue o destino de Kat, envolvendo-se com os mistérios de Hekseville em buscar de respostas do seu próprio passado.
Hekseville é uma cidade nos céus situada em voltar do World Pillar dividida em 4 distritos, os quais são interligados por vias ferroviárias. Auldnoir trata-se da cidade velha, onde o comércio e residências mais tradicionais podem ser encontradas. Pleajeune já é o centro de entretenimento, possuindo inúmeras lojas, bares, lanchonetes e outros serviços, e também onde podemos encontrar o colégio Arquebus Academy e o parque de diversões da cidade. Endestria é o menor dos distritos, servindo exclusivamente como estoque de carga e concentração de quase todas as fábricas. E por último, mas não menos importante, Vendecentre, que substitui Auldnoir como a nova principal zona residencial, além da maior de todos os quatro distritos, concentrando toda a parte financeira e política.
Com tantas riquezas nos detalhes, o quão vívido se torna cada distritos aos nossos olhos, a trama ainda aborda temas recorrentes aos nossos. Problemas políticos, desigualdade social, preconceito velado… Gravity Rush é um prato cheio de assuntos a serem abordados e discutidos de forma lógica através da fantasia. Mas em meio à tantas coisas comuns, o que o título pode nos apresentar de diferente e inovador?
Sua principal mecânica trata-se do principal poder de Kat: mudar o sentido da gravidade à sua vontade, fazendo-a praticamente voar e escalar cenários em um piscar de olhos. Objetos podem ser lançados e carregados por uma redoma de gravidade zero criada por ela, a auxiliando em batalhas e missões. Kat usa e abusa de seus poderes recém descobertos a ponto de ganhar o carinhoso apelido de Rainha da Gravidade, conforme ajuda os moradores de Hekseville a resolverem seus pequenos e banais problemas.
Mas muito problemas cercam essas pessoas além dos diários. Criaturas apelidadas de Nevis vivem atormentando os moradores de Hekseville sem muitos propósitos, agindo de forma bestial, brotando quando tempestades gravitacionais ocorrem. Com as mais diversas formas e tamanhos, possuindo um corpo feito de uma gosma preta, a única outra coisa que possuem é algum tipo de joia em seu núcleo, o qual, se for destruído, os aniquila.
Antes da aparição da nossa Rainha Gravitacional tais problemas eram combatidos por outra mutante, denominada Raven. Acompanhada por um corvo, ela circulava pelos quatros distritos buscando por algo vinculado a seu passado e às tais tempestades. Ela surge em momentos inoportunos na jornada de Kat e a confronta, realmente sendo um teste para a nossa heroína.
Com um universo tão rico e no mínimo interessante, Gravity Rush pode acabar não sendo uma experiência tão imersiva caso você busque algo além da narrativa principal e de alguns desafios extras. Por isso, não muito distante de seu lançamento, três DLCs foram lançadas afim de prolongar tal experiência de forma um tanto boba. Em cada uma delas, Kat ganha um novo traje correspondente às missões que ela fará. Estas não irão mudar a forma como você enxerga o jogo e muito menos adicionar novidades, mas trarão a você mais detalhes e nuances da vida, cotidiano e charme de Hekseville. Essa visão mais simples e sensível foi tão bem aceita que, em seu segundo jogo, foram implementadas de forma a estimular o jogador a entender melhor o funcionamento daquele mundo que o cerca.
Apesar do incrível trabalho que foi feito, uma continuação só conseguiria ver a luz do dia cinco anos após o lançamento do primeiro jogo, em uma plataforma de mesa. Gravity Rush 2 teve seu projeto migrado para o PlayStation 4, a fim de atingir um público maior e ter um desempenho gráfico melhor com novas possibilidades em suas mecânicas. Uma remasterização para PS4 do primeiro título da franquia foi feita nesse meio tempo, adaptando todas as mecânicas de giroscópio e touchscreen para o controle, sem perder a real essência da experiência proposta originalmente no PS Vita.
Sobre o autor
Victor é fã de consoles portáteis que sempre está sempre conhecendo alguma nova franquia. Jogos de plataforma, point and click e luta sempre estão em seu repertório.
Twitter: @vicgnis / Instagram: @vicnigs
Site oficial: The Magic Scroll / Twitter: @TheMagicScroll