Bayonetta 3 no multiverso da loucura

Muitos universos diferentes, alguns pontos questionáveis.


Após múltiplos atrasos e algumas controvérsias, Bayonetta 3 finalmente chegou ao Nintendo Switch. A aventura, bastante esperada por fãs da personagem e amantes do hack-and-slash, traz uma narrativa que abusa das tendências atuais e, ao mesmo tempo, simplifica sua jogabilidade.

O multiverso da loucura

A narrativa de Bayonetta 3 utiliza um elemento que já existe há anos na cultura pop, mas que ganhou fama com os recentes lançamentos de filmes de super-heróis: o multiverso. Logo nos primeiros minutos, somos apresentados ao vilão da história, Singularity, que tem o objetivo de destruir os vários universos e recriar a realidade de acordo com sua vontade. Isso expõe a principal novidade da história: a exploração do multiverso de Bayonetta.

Enquanto os dois primeiros títulos da série usaram a viagem no tempo como elemento principal para suas reviravoltas, o terceiro opta por um caminho diferente. O conceito do multiverso é o ponto principal da narrativa, sendo utilizado ao longo da trama para introduzir as diversas versões da bruxa, bem como os vários lugares que exploraremos.

A própria Bayonetta que controlamos faz parte deste enorme multiverso, sendo uma nova versão da heroína, totalmente diferente das anteriores. Além dela, temos a introdução de versões alternativas de personagens já conhecidos, como sua rival Jeanne, o informante Enzo, o bartender demoníaco Rodin e o jornalista que só se mete em confusão, Luka.

Assim como aconteceu no segundo jogo, Bayonetta 3 também busca introduzir uma nova personagem ao mito da série. Trata-se da jovem bruxa em treinamento, Viola, que viaja de seu universo, destruído por Singularity, para avisar a bruxa titular da ameaça. A garota tem uma tendência a utilizar palavrões, ataca com uma katana e é bem desajeitada, um contraste perfeito para a protagonista.

A narrativa em si apresenta Bayonetta e Viola viajando pelo multiverso para reunir os itens necessários para impedir os planos de Singularity. Cada universo as leva a uma localidade diferente no mundo, como o Japão, China e França. É como uma viagem ao redor do globo, só que através de múltiplos universos.

Apesar de ser uma premissa interessante, ela infelizmente não é bem aproveitada. Pouco é introduzido ou explicado sobre cada Bayonetta, com elas morrendo apenas alguns segundos após aparecerem. A narrativa do jogo não é boa e a utilização de um multiverso acaba não sendo algo positivo.

Bayonetta 3 acaba sendo outro título da série no qual a equipe decidiu focar mais no espetáculo do que contar uma narrativa concisa. Muitas partes ficam sem explicação e as reviravoltas podem ser descobertas antes da hora por jogadores mais atentos. O final também é extremamente apressado e se parece muito com o que pode ser encontrado em um anime shonen, mas repetido várias vezes até cansar a audiência.

Os incríveis poderes de uma bruxa

Narrativa à parte, o que deve chamar a atenção num jogo hack-and-slash como Bayonetta são a jogabilidade e mecânicas. O terceiro título da série segue o mesmo padrão apresentado nos jogos anteriores, com a bruxa explorando cenários e ativando batalhas, também conhecidas como Versos, ao chegar em certos pontos do mapa.

Embora conte com novas pistolas que trazem um leque de técnicas inéditas, o sistema de combate de Bayonetta 3 ainda é bastante familiar. As novidades ficam por conta de ataques especiais únicos para cada arma que só podem ser utilizados após o jogador preencher um certo medidor de ataques normais.

Uma vantagem que o game possui em relação aos seus antecessores é a variedade de armas. Nos dois primeiros jogos, o armamento da bruxa é bastante repetitivo e pela maior parte precisa ser descoberto pelos jogadores. No novo título, uma grande parte do arsenal é liberado ao decorrer da história, tornando mais fácil notar sua diversidade que inclui ioiôs flamejantes, um trem-espada e um microfone espeicla ideal para fãs da canção tema de Bayonetta 2.

Infelizmente, a variedade de armas veio a custo da customização de equipamentos da bruxa, não tornando mais possível equipar armas separadamente entre braços e pernas.

A segunda novidade do sistema de batalha é a utilização dos demônios de Bayonetta na forma de criaturas gigantes. Podendo ser ativados com um botão, a bruxa começa a dançar e o jogador assume o comando dos monstros. Cada criatura possui seus próprios ataques, que podem ser ativados e mantidos no campo de batalha enquanto a protagonista possuir magia suficiente.

Essa mecânica é o que diferencia Bayonetta 3 de seus antecessores e rivais no gênero. A Platinum fez bastante certeza de fazer com que os jogadores utilizem essa invocação, com muitos inimigos sendo gigantes que, apesar de poderem ser eliminados com ataques normais, são geralmente fracos contra os demônios gigantes da bruxa.

Adicionalmente, temos Viola, a nova personagem controlável por alguns capítulos da história. A garota utiliza uma katana para atacar, dardos como arma de longa distância e o demônio Cheshire como invocação. Embora ela possua menos armamento que Bayonetta, todo o resto da jogabilidade continua presente, com algumas ligeiras diferenças.

Apesar de ainda poder utilizar a esquiva, Viola usa o Witch Time para reduzir a velocidade dos inimigos e atacar sem problemas, mas de uma maneira diferente. É uma habilidade interessante, mas, diferente da esquiva de Bayonetta, só funciona quando a personagem não é atacada e não pode ser cancelada após um ataque.

Por fim, durante os capítulos, ainda podemos controlar Jeanne, a amiga de Bayonetta, em sua missão especial de invadir uma base em busca do doutor Sigurd. A aventura inteira acontece no formato 2.5D, oferecendo um simples sistema de furtividade que Jeanne deve utilizar para passar despercebida pelos inimigos. São missões curtas, mas que possuem seu charme próprio.

Os altos e baixos de Bayonetta 3

Sabemos que, apesar de ser um console muito legal, o Switch possui certos problemas na hora de rodar jogos que buscam entregar uma boa ação aos jogadores. Bayonetta 3 é um desses títulos, buscando oferecer um espetáculo a cada minuto de ação. Cenários enormes e muitos efeitos especiais marcam presença ao longo da aventura através do multiverso.

Bayonetta 3 tem problemas em manter sua taxa de quadros estável, oscilando muito entre 30 e 60 quadros, de acordo com a quantidade de ação na tela. Em alguns casos, jogadores nem perceberão a inconstância, mas em alguns momentos é bem perceptível, o que é horrível para um jogo que requer movimentos rápidos e um bom tempo de reação.

Visualmente, o jogo também tem seus problemas. O game é bonito, mas, comparado a títulos anteriores, é possível perceber um pequeno retrocesso nos personagens. Existem também muitos problemas de texturas e lag de carregamento afetando objetos na tela quando entramos em uma nova área. Os efeitos visuais, ao menos, são bonitos e agora existem avisos de quando um inimigo vai atacar ou de onde veio o golpe que acertou o jogador.

Na parte sonora, o game também possui seus altos e baixos. O trabalho de dublagem continua fenomenal, com o retorno dos dubladores originais para a maior parte do elenco. As adições são Jennifer Hale como a protagonista e Anna Bristin como Viola.

Jennifer Hale, contudo, é um caso à parte. Muito se desconfiou do seu anúncio, substituindo Helena Taylor, que fez um trabalho incrível nos dois primeiros jogos e conseguiu destacar bem a voz de Bayonetta. Hale conseguiu manter o carisma da bruxa, utilizando muito bem sarcasmo e sotaque para manter o alto padrão de qualidade esperado de uma das mais icônicas protagonistas dos games.

Bayonetta 3 também introduz novos inimigos: os Homunculi. Criados artificialmente por humanos, eles possuem uma boa variedade; no entanto, a maioria das criaturas são monstros enormes que acabam por arrastar demais os combates e ser uma das partes mais chatas do jogo.

A música do título também vale uma menção. Assim como fizeram com os personagens de Devil May Cry 4 e 5, Bayonetta e Viola possuem seus próprios temas de batalha que representam suas personalidades. A Bruxa ganha um remix em jazz da clássica Moonlight Serenade. Já Viola vem com o tema Ghost, uma canção punk-rock que lembra bastante o que é encontrado no jogo dos caçadores de demônios.

Uma transição que deixou a desejar

Bayonetta 3 é um jogo de transição. Similar aos casos de Devil May Cry 4, o jogo introduz uma nova personagem que pode assumir o protagonismo em jogos futuros. No entanto, diferente da saga de Dante, essa passagem de bastão não foi bem realizada. Viola, apesar de ser similar a Nero em certos quesitos, não é desenvolvida o bastante para que o jogador se apegue a ela.

A narrativa do título deixa um gosto amargo na boca, especialmente com o final que escolheram dar para a bruxa. A ideia do multiverso, apesar de interessante, foi mal aproveitada e acaba servindo apenas como a Platinum tentando seguir o que é sucesso com o público nos dias atuais.

A jogabilidade de Bayonetta 3 continua boa, apesar de simplificada. A variedade de armas é suficiente para incentivar o jogador a dominar o sistema e os muitos segredos incentivam o fator replay. Infelizmente, a adição das invocações gigantes e a grande variação de gameplay ao longo da narrativa são um grande problema para aqueles que só querem um sistema de combate com foco em ataques rápidos.

Texto por Erick Figueiredo
Revisão: Willyan Cavalcanti

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Jornalista, Assessor de Imprensa, fã de café e dono do canal Carinha que Joga. É um fã incondicional de Sonic, tendo Sonic Adventure 2 como seu jogo favorito de toda a franquia. Gosta de quase todos os estilos de games, sendo principalmente um grande fã de JRPGs. Breath of Fire IV e Final Fantasy VIII são 2 de seus RPGs favoritos. Também curte várias outras séries como MGS, BlazBlue e Tales