Gran Turismo – O pai dos jogos de corrida modernos

O verdadeiro simulador de direção


Quando olhamos para jogos de corrida, um dos principais nomes do gênero é Gran Turismo. A série, que teve início no PlayStation, é hoje considerada uma das principais do automobilismo virtual e um dos carros chefes quando o assunto é velocidade nos consoles.

Muito mais do que abrir portas, o primeiro Gran Turismo foi um marco para a evolução dos jogos de corrida e fez com que milhares de jogadores se tornassem apaixonados pelos veículos de quatro rodas. Vamos relembrar a revolução que foi o GT1.

Os videogames e jogos de corrida

Jogos de corrida são um dos gêneros mais antigos que existem no mundo dos games. Assim como muitos outros, sua origem se deve aos fliperamas, com Night Driver, título criado pela Atari em 1976, sendo um dos primeiros deste gênero.

Os anos 80 viram o surgimento de alguns clássicos dos fliperamas como OutRun, criado pela Sega. A própria foi responsável por algumas inovações no gênero, com seus títulos possuindo visuais de alta qualidade além da utilização de volantes e outros acessórios para guiar os veículos na tela.

Com a expansão dos consoles caseiros no final dos anos 80, é claro que o gênero começaria a dar as caras nas novas plataformas. O início dos anos 90 marcou a introdução de muitos jogadores a franquias lendárias de corrida, como a série Top Racer (Antigo Top Gear) no Super Nintendo, Super Monaco GP II (que tinha nada mais nada menos que o lendário piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna ajudando em seu desenvolvimento) e outras.

Uma das principais revoluções – tanto nos fliperamas, quanto nos consoles – foi a introdução dos gráficos 3D, que ajudou diversos gêneros a evoluírem ainda mais em sua apresentação. Nos fliperamas, isso resultou nos clássicos Ridge Racer e Daytona USA, da Namco e Sega, respectivamente. Já os consoles e PCs, viram a introdução de Test Drive e Need for Speed.

Todos estes títulos traziam alguns elementos que eram vistos como a base do gênero. Suas jogabilidades eram simples, os veículos eram super máquinas ou inspiradas por carros exóticos e caros, e, por fim, possuíam um sistema de progressão bem direto ao ponto.

O nascimento de Gran Turismo

O desenvolvimento do primeiro Gran Turismo tem uma ligação direta com o nascimento e criação do primeiro PlayStation. Kazunori Yamauchi era apenas um jovem que trabalhava no departamento de música da Sony, ajudando a publicar alguns títulos de parceiros no Super Nintendo.

Yamauchi sempre foi um grande fã de carros e um dia, após visitar os fliperamas e jogar alguns dos títulos disponíveis, acreditou que a forma como os carros eram retratados em jogos deixava a desejar. Ele queria poder pilotar carros de verdade sentado em frente a uma tela.

Curioso por gráficos 3D, Yamauchi ingressou na Sony em 1992, após se formar na faculdade, e por uma grande coincidência, tornou-se um dos primeiros convidados por Shuhei Yoshida, um dos chefes do projeto PlayStation, para conceber um título para o futuro console.

A ideia que Yamauchi apresentou era arriscada e intrigante: Um jogo de corrida realista 3D que permitisse aos jogadores controlar os mais diferentes tipos de veículos, desde supermodelos até os mais simples encontrados no dia-a-dia.

A ideia foi recusada pela Sony, que não queria arriscar tão cedo com o novo console. Yamauchi não se desapontou, contudo, e logo ofereceu uma segunda ideia. Inspirado nos “kart racings”, estilo introduzido ao mundo pelo sucesso de Super Mario Kart, o desenvolvedor sugeriu a criação de um jogo neste estilo, com jogabilidade simples e visuais cartunescos.

O resultado foi Motor Toon Grand Prix, lançado apenas no Japão em 1994 e que se tornou um sucesso, rendendo uma continuação em 1996, dessa vez sendo distribuído ao resto do mundo.

O sucesso do game e sua sequência deram a Yamauchi uma promoção para chefe da divisão Polys Entertainment, que desenvolveu os jogos, além de uma certa moral com seus superiores. Com isso, novamente o pitch foi feito e, dessa vez, o pedido foi aprovado. A equipe foi mantida e a experiência adquirida com o desenvolvimento de Motor Toon ajudou o time a ter uma base de como fazer veículos de diferentes estilos e formatos funcionarem no PS1.

Em 1997, um ano após Motor Toon Grand Prix 2, o Japão recebeu aquele que se tornaria um dos títulos mais aclamados do PlayStation: Gran Turismo. O jogo, que começou seu desenvolvimento ainda em 1992, mas passou anos sendo um projeto secundário da equipe até Yamauchi receber um sinal verde da Sony, chegou ao console impressionando os jogadores.

Sua vasta variedade de veículos, física realista e visuais de cair o queixo foram ingredientes para o sucesso do título. No resto do mundo, o jogo chegou um ano depois, em 1998, introduzindo ao mundo não apenas uma nova série de jogos de corrida, mas uma subcultura ainda não explorada.

O verdadeiro simulador de corrida

O primeiro Gran Turismo chegou ao PlayStation em um cenário bem único para jogos de corrida. Ridge Racer, Need For Speed, TOCA e outras franquias já estavam presentes no console e todas ofereciam uma experiência padrão no gênero.

Os jogadores começavam com uma lista seleta de carros e algumas pistas, com novas opções sendo recompensadas a cada vitória em uma corrida. Em alguns jogos, era possível correr contra o tempo ou disputar campeonatos inteiros, enquanto outros ofereciam até disputas multijogador.

Gran Turismo oferecia esta mesma experiência, graças ao seu modo arcade. A jogabilidade era um pouco similar à encontrada em outros títulos, porém, a lista de carros já chamava a atenção. Em vez de carros de corrida ou super máquinas, a lista inicial de GT1 era mais modesta, com alguns veículos que se tornaram, graças ao jogo, icônicos com fãs do automobilismo.

Cada carro dos 140 presentes no jogo era recriado perfeitamente nos gráficos do PlayStation. Além de oferecer opções de cores e diferentes modelos, cada carro também possuía sua própria descrição, que dava detalhes sobre sua criação, além de seus detalhes técnicos. Assim, mesmo que você não conheça nada de carros, era possível aprender um pouco sobre a máquina, mostrando que GT1 era um pouco mais do que apenas um jogo de corrida.

O que destacou Gran Turismo de seus rivais era o seu segundo modo de jogo, focado em simulação. Neste modo, o jogador tinha acesso imediato a todos os veículos do jogo, com o único impedimento sendo seu valor de compra.

Cada carro do jogo custa uma certa quantidade de créditos, com o jogador começando com 10 mil e ganhando mais a cada vitória. Além de poder comprar carros novos, também era possível adquirir veículos usados e vender os indesejados. Os créditos ganhos também podiam ser reinvestidos em adquirir peças melhores para seu veículo.

Antes do jogo, houveram alguns títulos que buscaram oferecer um pouco dessa customização para o jogador. Jogos como Top Gear 3000, recompensavam os jogadores com dinheiro a cada corrida ganha, que também podia ser utilizado na compra de peças. 

Gran Turismo, contudo, foi um pouco além, com a customização tratando de muito mais do que uma simples peça nova. Além de melhorar o veículo, as peças também permitiam customização na forma como o carro reage na pista, com o jogador podendo customizar coisas como a velocidade das mudanças de marchas, suspensão e muito mais.

Outra grande adição do modo de simulação era a necessidade de tirar uma licença para poder participar dos campeonatos. Os testes serviam como um tutorial e uma forma de ensinar o jogador a controlar os diferentes tipos de veículos, bem como aprender algumas técnicas para utilizar nas pistas. No primeiro jogo, existiam apenas três licenças, B,A e International A, com o jogador desbloqueando acessos a novos torneios sempre que completava uma licença.

Ao completar uma prova, o jogador recebe uma medalha que determina o seu resultado: Ouro, Prata ou Bronze. Para passar para o próximo teste, basta conseguir uma medalha de bronze, mas completar todas com ouro recompensava o jogador com veículos especiais.

Correndo como um profissional

Como sua própria tagline – “The Real Driving Simulator” – sugere, Gran Turismo é um título que busca simular, dentro das limitações do PlayStation, como é controlar um carro de verdade. O jogo, contudo, não tem uma pegada muito séria no realismo, mantendo um pouco de elementos mais simples para permitir que qualquer jogador possa pilotar as máquinas sem muitas dificuldades.

Assim como é o caso na vida real, o primeiro Gran Turismo trazia veículos de diferentes trações, motores e controles, fazendo com que o jogador tenha que se adaptar a cada novo veículo. Cada carro tem suas particularidades, com alguns sendo mais fáceis de controlar nas curvas e outros requerendo um pouco mais de força para poder superar as partes mais difíceis de um circuito.

Também é necessário aprender a frear e acelerar da maneira correta. Frear demais pode fazer com que o jogador perca o controle de seu veículo e uma aceleração ruim pode ser o ponto que define se uma corrida foi ganha ou não. São pequenas coisas mas que fazem Gran Turismo se destacar de outros jogos anteriores.

Todas as corridas do jogo ocorrem em circuitos fechados, incluindo as chamadas Special Routes, compostas basicamente de circuitos urbanos. No primeiro jogo, os circuitos ainda eram fictícios, mas possuíam partes inspiradas em lugares reais ou estradas que apareciam na cultura pop da época.

Alguns jogos de corrida da época já haviam utilizado circuitos fechados, mas Gran Turismo popularizou o estilo, com muitos títulos subsequentes buscando colocar os jogadores para correrem em locais icônicos.

Uma menção importante é que Gran Turismo também trazia três corridas especiais, que buscavam recriar uma das competições mais desafiantes do automobilismo mundial: as provas endurance. Enquanto todas as corridas normais do game eram de no máximo 5 voltas, um jogador que adquirisse a licença IA, poderia participar da 300km Grand Valley e Special Stage Route 11 All-Night Endurance Race I e II.

Estes três desafios, além de colocar os jogadores contra alguns dos mais velozes veículos do jogo, tinham como maior diferença sua duração de tempo. Grand Valley era uma corrida de 60 voltas, enquanto as Special Stage Route 11 eram 30 voltas. Ambas podiam levar até uma hora para serem completada. Esses eventos também introduziram pit stops ao jogo, com mudanças de pneus para manter o veículo competitivo.

Endurance é uma das principais categorias do automobilismo mundial e considerada por muitos como uma das mais difíceis. Sua introdução ao mundo dos games foi justamente com Gran Turismo, já que em outros títulos, corridas eram feitas para serem terminadas rapidamente.

As corridas de endurance serviam para mostrar que o game realmente queria ser um jogo que representasse muito mais do que simples corridas arcade. Este era um título que buscava recriar o mundo do automobilismo nos videogames.

A importância de Gran Turismo

É inegável que o sucesso do PlayStation ajudou muitos títulos a explodirem em popularidade e se tornarem verdadeiros líderes de seus respectivos gêneros e Gran Turismo não foi diferente. Buscando se diferenciar de tudo que existia e oferecer uma nova experiência, o jogo abriu caminho para um novo tipo de game de corrida, trazendo uma jogabilidade puxada para o realismo e muitas inovações.

Com sua própria plataforma, o jogo foi uma revolução. Nascido de uma ideia que muitos acreditavam não ter apelo ao público, GT1 é o jogo mais vendido do console, com mais de 10 milhões de unidades comercializadas. Em uma plataforma com clássicos como Final Fantasy VII e Metal Gear Solid, um jogo de corrida ser o mais vendido é algo no mínimo curioso.

O sucesso do primeiro game rendeu sequências que estão até hoje dando as caras nas plataformas PlayStation. GT2 apareceu ainda no PS1 e o título mais recente, Gran Turismo 7, saiu para PS4 e PS5 em 2022, e vocês sabiam que a nossa querida Mio fez parte da equipe de localização dele?

O sucesso também fez com que muitos rivais surgissem por aí, buscando seu espaço no novo mercado que o primeiro Gran Turismo criou. Não apenas isso, é claro, se hoje os jogos de corrida buscam permitir que os jogadores controlem carros de verdade, possam progredir em algum tipo de carreira e oferecem desafios extras, é preciso agradecer GT1 por isso.

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Tai

Jornalista, Assessor de Imprensa, fã de café e dono do canal Carinha que Joga. É um fã incondicional de Sonic, tendo Sonic Adventure 2 como seu jogo favorito de toda a franquia. Gosta de quase todos os estilos de games, sendo principalmente um grande fã de JRPGs. Breath of Fire IV e Final Fantasy VIII são 2 de seus RPGs favoritos. Também curte várias outras séries como MGS, BlazBlue e Tales