Na infância, quando tive a oportunidade de jogar Onimusha pela primeira vez, eu descobri uma paixão enorme por cultura japonesa e jogos que a exploram. Alguns anos depois, com Okami, esse amor pelo antigo Japão e suas lendas folclóricas só cresceu ainda mais e, desde então, fico sempre atento a novos títulos que focam em dar destaque à Terra do Sol Nascente. Uma das mais recentes dessas obras é Sakuna: Of Rice and Ruin, do estúdio Edelweiss.
Lançado mundialmente em novembro de 2020, esse jogo — que mistura elementos de RPG de ação com simulação de vida rural — cativou muitos e, sem dúvidas, se provou um sucesso. Nesta análise, descobriremos porque este é um título que apreciadores do Japão certamente não devem deixar de conferir.
Sobre pessoas
Se passando em uma terra inspirada pelo Japão feudal, Of Rice and Ruin acompanha a epônima princesa Sakuna, uma deusa mimada que vive uma vida confortável num reino celestial. Após um acidente envolvendo um grupo de cinco humanos, a pequena divindade é expulsa com eles para uma ilha habitada por demônios.
Ao lado dos mortais, a missão imposta sobre Sakuna é sobreviver em uma simples residência no meio da ilha até que todos possam voltar para casa. Assim, ela e seus conviventes devem aprender a arregaçar as mangas e trabalhar juntos para livrar a ilha de suas perigosas criaturas e conseguir o necessário para viver.
Ao decorrer do jogo, fica claro onde está o coração da história: na relação entre personagens de mundos totalmente diferentes. Com a convivência, essas seis pessoas de fortes personalidades devem aprender a lidar uma com a outra e se desenvolver pessoalmente — descobrindo suas vocações e como podem ajudar a sociedade.
No fim, a “lição” que o jogo parece querer passar é de que todos podem fazer sua parte para ajudar. Não importa se você é uma estrangeira com costumes totalmente diferentes, uma criança rebelde, um guerreiro covarde que mal consegue empunhar uma espada ou uma deusa mimada — sempre há espaço para crescer se você se dedicar e não se esquecer do seu próximo.
Sobre ruína
Essencialmente dividida em duas “partes”, a jogabilidade começa antes de mais nada introduzindo mecânicas de jogo de plataforma/beat-’em-up. No controle da princesa Sakuna, o jogador deve avançar por várias áreas da perigosa ilha de demônios, enfrentando uma variedade de criaturas inimigas por comida e experiência e explorando cada canto por itens úteis.
No geral, os elementos de exploração e batalha são simples, especialmente para jogadores ávidos de jogos de plataforma. Entretanto, com chefões e criaturas mais formidáveis, logo se torna aparente que “simples” não significa “fácil”. Para avançar, é necessário utilizar competentemente todo o arsenal de Sakuna, desde suas armas de uma e duas mãos até suas vestes divinas, essenciais para navegar pelo cenário e embrulhar inimigos.
Essa dificuldade se casa naturalmente com as mecânicas fáceis de entender, permitindo que o jogador consiga aperfeiçoar suas habilidades sem muitos obstáculos. Para facilitar um pouco a vida, acessórios, comida e a produção de arroz podem aprimorar a força e outros atributos de Sakuna. Esse é um elemento de RPG que adiciona uma camada de complexidade ao jogo sem complicar as coisas.
Sobre arroz
Com exceção de alguns chefões desafiadores, a verdadeira aventura de Sakuna está em seu segundo aspecto de jogabilidade: a simulação de vida rural. Mais especificamente, num detalhado sistema de cultivo de arroz.
Sendo o elemento que mais diferencia o jogo da série Fairy Bloom, também do estúdio Edelweiss, a produção de arroz se prova uma das mecânicas mais interessantes devido ao seu realismo. Diferente de muitos outros jogos de fazenda que tendem a simplificar as coisas pelo bem da jogabilidade, Sakuna traz um sistema complexo dividido em várias etapas que acaba sendo até mesmo educativo.
No processo de plantar arroz, o jogador pode aprender a importância de sortir sementes, cuidar do terreno e vários outros elementos que influenciam na qualidade do plantio. É curioso também descobrir que não existe, exatamente, uma única forma correta de semear o arroz, já que diferentes tipos de grãos trarão efeitos diversos, então tudo depende da vontade do jogador.
Como o jogo inteiro funciona dentro de um ciclo de dia e noite relativamente curto, passando por todas as estações do ano, é importante saber o melhor momento para plantar. A produção de arroz é um processo que exige tempo e paciência, sendo possível aprender e evoluir com cada colheita.
Com o tempo, Sakuna adquire novas habilidades que facilitam a plantação de arroz e seu trabalho manual. Entretanto, caso o jogador realmente anseie mais pelas partes de exploração e combate, ele pode optar por deixar essa tarefa para um dos personagens humanos. Claro, a qualidade dos seus grãos não será das melhores, mas é uma opção.
Sobre tranquilidade
Sakuna, com seu visual fofo, trilha sonora tipicamente japonesa e jogabilidade simples é um jogo que pode ser extremamente relaxante. Por mais que a parte de ação contra inimigos possa ser bem frenética, com o tempo ela também pode acabar se tornando repetitiva o bastante para que o jogador avance sem pensar muito, especialmente se estiver revisitando uma área já explorada.
Assim, seja durante a exploração ou plantio, não seria estranho jogar enquanto faz alguma outra atividade, como escutar um podcast ou música fora do jogo. No meu caso, percebi que pude avançar bem mais quando fazia algo do gênero, o que talvez possa ter ajudado a impedir que a experiência se tornasse monótona, já que não é difícil se ver repetindo as mesmas atividades por um tempo.
Dito isso, nem sempre é preciso encontrar uma distração no mundo real. Vale a pena simplesmente mergulhar no mundo do jogo e se deixar ser absorvido não apenas pelo lindo cenário florestal, mas também sua delicada trilha sonora. A música que acompanha Sakuna em todas as suas atividades ajuda a carregar esse ar de tranquilidade tradicional de muitos JRPGs e jogos de fazenda.
Repetindo o que já foi dito no início, Sakuna: Of Rice and Ruin é, definitivamente, um jogo para todos que apreciam a cultura japonesa. Além disso, aqueles que também gostam de jogos de plataforma/beat-’em-up ou “de fazendinha” também encontrarão aqui uma obra bem completa nesses aspectos.
Geralmente, jogos relaxantes podem acabar se tornando monótonos e repetitivos, especialmente para quem prefere experiências mais dinâmicas. Mesmo assim, Sakuna busca evitar esse sentimento de tédio, trazendo tanto momentos tranquilos, como também desafios na forma de cenários perigosos e chefes durões. Paralelamente, sua história meiga cria um lindo conto que conecta a vida normal com o sobrenatural.
Sakuna: Of Rice and Ruin encontra-se disponível mundialmente para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC.
Esta análise foi feita com base na versão para PS4 cedida pela XSEED Games.