Sega Ages: Phantasy Star – O RPG espacial que evoluiu o gênero


Sega Ages: Phantasy Star é uma das mais antigas franquias da Sega, um dos primeiros títulos da empresa feito especialmente para os consoles. Foi um jogo totalmente diferente de tudo que a companhia havia criado, e é chegada a hora de falarmos sobre aquele que é um dos títulos mais importantes da história da desenvolvedora.

Nos anos 80, após o estrondoso sucesso de Dragon Quest da Square Enix (apenas Enix na época), o mercado japonês de games descobriu a mina de ouro que eram os RPGs. Graças ao sucesso do jogo, outras empresas decidiram seguir o exemplo, criando seus próprios título do gênero. Assim, nasceram franquias clássicas como a atualmente bem conhecida Final Fantasy.

Dentre todas as desenvolvedoras da época, houve uma que decidiu entrar nesse novo gênero causando um grande alvoroço e com certeza conseguiu. Estamos falando da Sega, que já era famosa pelos seus jogos curtos e desafiadores. Um RPG seria o oposto do que eles sabiam fazer, algo que precisaria ser uma aventura um pouco mais longa, continuar sendo desafiador e, além de tudo, apresentar uma história interessante. Acima de tudo, esse novo jogo deveria se destacar entre a montanha de RPGs que surgiam na época.

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Assim, reunindo uma equipe de desenvolvimento com nomes que mais tarde se tornariam importantes para a história da empresa e tendo como base o seu console de 8-bits, o Master System, o projeto de um RPG exclusivo da Sega começou. Meses depois, pouco antes do lançamento de Final Fantasy, foi lançado Phantasy Star no dia 20 de dezembro de 1987, chegando em novembro de 1988 no ocidente.

Um RPG diferente

Phantasy Star foi um RPG revolucionário em relação ao seus concorrentes, trazendo uma história envolvendo tecnologia misturada com elementos medievais. Por exemplo, o jogo inclui espadas comuns mas também armas à laser, sabres de luz, cidades futurísticas, refrigerantes e até mesmo naves espaciais que permitem viajar para outros planetas. Sim, planetas, pois a história de Phantasy Star se passa em três planetas diferentes.

Como se tudo isso não bastasse, outro elemento memorável e diferente de seus rivais foi o fato de sua história ser protagonizada por uma personagem feminina, a heroína Alis. Ela foi uma das primeiras protagonistas femininas da história dos videogames e é tão importante que retornou anos mais tarde em jogos como SegagagaPhantasy Star Online 2 Sega Heroes.

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A equipe de desenvolvimento também se destacava, contando com um grande número de mulheres, incluindo a artista Rieko Kodama, responsável pelo design dos personagens, monstros e da imagem de encerramento do jogo. Igualmente envolvido na equipe estava o programador Yuji Naka, o homem que viria a criar o fenomenal Sonic the Hedgehog e que também entrou para a história da indústria nessa época, conseguindo se aproveitar ao máximo do limite de 8-bits do Master System. Juntos, Kodama e Naka são conhecidos pelos fãs como os pais de Phantasy Star.

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O jogo acabou se tornando uma peça fundamental no cenário dos videogames no Brasil, onde ele foi lançado em 1991 para o Master System, sendo totalmente localizado pela TecToy e se tornando o primeiro RPG traduzido para português brasileiro, algo que ajudou a criar um grande grupo de fãs da série no país.

Aliás, no que diz respeito à presença do título no território nacional, muitos jogos foram localizados e traduzidos para português brasileiro em uma parceria entre a Sega e a Tec Toy que sem sombra de dúvida foi um fator muito relevante para a popularização de jogos no Brasil.

Abaixo podemos ver um encarte bem nostálgico para os fãs do game que também foi publicado em língua portuguesa por aqui:

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A ressurreição de uma obra

Posteriormente aos relançamentos em consoles como Sega Saturn e Game Boy Advance e um remake lançado exclusivamente para o PlayStation 2 no Japão, Phantasy Star retornou mais uma vez através da linha Sega Ages no Nintendo Switch, trazendo consigo muitas melhorias como uma função de mapa, filtros visuais, interface de usuário melhorada — mostrando pontos de vida e magia dos personagens — lista com descrições de itens, armas e feitiços, opção de texto em inglês e japonês, trilha sonora da versão japonesa e ocidental e, o que é sem dúvidas a melhor adição desse relançamento, mais pontos de experiência e dinheiro após batalhas, reduzindo a necessidade de ganhar tantos níveis no jogo.

Curiosamente, a versão teve que ser adiada várias vezes pois os programadores tiveram dificuldades com o código de Yuji Naka, que na época utilizou diversos meios de cortar espaço e permitir mais conteúdo no jogo do que a quantidade suportada pelo cartucho, além de um sistema de backup de arquivos de salvamento que ele havia criado para evitar que versões corrompidas desses arquivos fossem perdidas.

Phantasy Star começa no planeta Palma, localizado no sistema Ragol. Nero, irmão da protagonista Alis, é morto pelas forças do rei Lassic que de acordo com a tradução em inglês teve como motivo de seu assassinato uma tentativa de rebelar-se contra a coroa mas que acabou por se tornar uma cena famosa na localização brasileira do game que traduziu a cena como se Nero houvesse sido morto por especular sobre um suposto romance do rei Lassic.

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Após ver seu irmão morrendo em seus braços, A protagonista decide ir atrás de vingança — outra coisa que a colocava em um patamar diferente dos outros protagonistas — Alis não saiu em sua jornada para salvar o mundo, ela acaba fazendo isso depois.

O foco da personagem era sua vingança, algo impensável para a época que tinha como padrão a boa e velha jornada do herói para salvar o mundo derrotando o vilão por um bem maior. Não era comum a exploração de motivações pessoais em aventuras como essas e Alis foi a primeira a mostrar isso, saindo em busca da cabeça de Lassic, assassino de seu querido irmão.

Contudo, para poder se vingar de Lassic, a protagonista precisa de aliados. Juntam-se ao jogador mais três guerreiros que se tornariam lendários assim como a protagonista, são eles: O gato falante Myau, o guerreiro musculoso Odin e o mago com aparência andrógina Noah (O que causou certos erros de tradução em qualquer versão que não fosse a japonesa).

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Myau e Noah voltariam em jogos futuros da série, seja como personagens ou tendo referências.  Ambos estão em Phantasy Star Online 2, Noah, usando seu nome japonês original de Lutz, aparece como um vilão menor no episódio 5 do jogo espacial, enquanto Myau é representado por Nyau, um gato que aparece para desafiar o jogador aleatoriamente durante as missões, algumas teorias dos fãs mais velhos dizem que Nyau é descendente do gato original, o que pode ser verdade, considerando a arma que o mesmo usa.

Odin infelizmente é o único que não teve a mesma sorte, além de uma pequena referência no quarto jogo da série, e uma aparição especial em Segagaga, o musculoso herói não reapareceu mais na série, nem mesmo no Episódio 5 de PSO2, junto com seus companheiros, Alis e Noah.

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Além dos guerreiros, Alis também deve reunir equipamentos poderosos para ajuda-la em sua jornada e um deles é o lendário conjunto de Laconia, composto pela espada, machado, armadura, capacete e escudo. Estes itens se tornaram lendas na série, com a Espada de Laconia sendo basicamente a “Master Sword” da franquia.

Com a ajuda dos três guerreiros e dos poderosos equipamentos, Alis finalmente poderá derrotar Lassic, mas, antes mesmo que ela possa se encontrar com algum deles, há algo que ela deve fazer primeiro…subir de nível.

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Similarmente aos RPGs da época, Phantasy Star requer que o jogador use seu tempo para subir de nível, exigindo que certo tempo de treinamento dos personagens e coleta de dinheiro seja gasto antes de deixar a primeira cidade do jogo, por exemplo. Aqui você passará mais tempo lutando as mesmas batalhas contra os mesmos inimigos do que avançando na história e é claro, prepare-se para enfrentar hordas e mais hordas de inimigos a poucos metros de distância um do outro.

Entretanto, a versão Sega Ages contém um reajuste de dificuldade onde o jogador recebe o dobro de experiência e dinheiro, o que reduz drasticamente o tempo gasto com o jogo. A versão também diminui a quantidade de encontros aleatórios, o que pode ser bom para aqueles que querem atravessar as longas dungeons sem sofrer muito, mas pode ser ruim caso você queira completar o compêndio do jogo.

Além da necessidade de subir de nível, outro fator de Phantasy Star que envelheceu muito mal em comparação às versões futuras é a quantidade de backtrack (revisitação de áreas anteriores do jogo) que o jogador terá que fazer, seja por que precisar conversar com alguém para que algum item apareça em certo local ou  em casos onde o jogador tenha conseguido uma nova habilidade que era necessária para explorar determinada área.

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Poucas cenas acontecem durante a história e muito do enredo só é descoberto falando com os habitantes das mais diferentes cidades do jogo, até mesmo o grupo de heróis não interage muito além de suas introduções.

Em contraste com a história séria, um fator divertido do jogo é a presença de uma NPC (personagem não jogável) nas cidades que pergunta ao jogador se ele ou ela gosta dos jogos da Sega, um momento bem aleatório durante a longa jornada. O curioso é que na localização publicada pela TecToy, a pergunta muda para “Você gosta dos jogos da TecToy?”.

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Sistema de batalha

O sistema de combate é bem simples. As batalhas são em primeira pessoa, cada personagem pode atacar, lançar magias, usar itens em si mesmo, fugir e tentar conversar com o inimigo para que eles possam escapar. Inimigos e personagens jogáveis alternam a ordem dependendo de seus atributos, até mesmo existindo a chance de um ou mais personagens se esquivarem dos ataques.

O maior problema aqui é que o jogador ficará limitado a três personagens apenas quando chegar ao fim do jogo pois Noah, o mago, possui um atributo de ataque tão ridículo, que a maior parte dos inimigos consegue desviar de seus ataques. Magias são úteis por nunca errarem o alvo, o que faria o personagem ser um membro importante do time, mas o jogo não possui itens de recuperação de MP (pontos de magia), o que faz com que a melhor estratégia seja preservar Noah e suas magias para os chefes.

Aliás, tais chefes não são muitos mas ainda assim são desafiadores e assim como os inimigos, muito variados. Alguns, por exemplo, são inspirados em monstros lendários como Medusa e geralmente exigem uma maior preparação do que os inimigos normais.

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As dungeons do jogo trazem uma visão completamente em primeira pessoa e em 3D, algo que também era um diferencial na época e que e mais tarde foi popularizado pela série Shin Megami Tensei. Esses ambientes geralmente possuem mais de um andar e a falta de um mapa complica as coisas mas a versão Sega Ages adiciona um mapa que facilita, e muito, na hora de se localizar.

Os cenários do jogo foram inspirados em uma mistura de estética medieval com um alguns elementos de ficção científica, sendo o mais óbvio deles a franquia Star Wars. Alguns personagens, inimigos e até mesmo o planeta Motavia, foram inspirados na clássica série espacial criada por George Lucas, fazendo com que o jogo tivesse um estilo que o diferenciava dos outros de sua época.

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O jogo possui duas trilhas sonoras diferentes: uma para a versão japonesa e outra para a versão ocidental; a versão japonesa utiliza o chip FM d\o Mark III (O Master System japonês), e graças a ele, temos uma das melhores composições musicais do console, com temas animados como o “Shop Theme” e o “Battle theme” além de ter uma qualidade de som totalmente limpa. Em comparação, o Master System ocidental — que não possui o chip FM — tem uma qualidade terrível. A versão SEGA Ages permite que você escolha qual trilha ouvir. Minha recomendação? Escolha a versão FM.

Concluindo…

Phantasy Star é um ótimo jogo caso você tenha interesse em RPG dos anos 80s ou se você tem curiosidade sobre a série. O jogo é simples, tem personagens que foram únicos para a época e foi um dos primeiros JRPGs que decidiu ter um estilo que não fosse medieval para seu mundo e sua história. A Versão SEGA Ages é a mais recomendada a ser jogada, graças às suas adições que permitem que o título seja melhor aproveitado por jogadores que não querem lidar com elementos desagradáveis do design dos RPGs daquela época. Mas caso você tenha curiosidade, jogue a versão traduzida pela TecToy, só para ver como a empresa brasileira fez história ao traduzir um RPG japonês para o nosso país.

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SEGA Ages Phantasy Star se encontra disponível para o Nintendo Switch, além dele o jogo original pode ser encontrado para o Master System e em coletâneas para o Sega Saturn, PSP, PS2 e PC.

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Tai

Jornalista, Assessor de Imprensa, fã de café e dono do canal Carinha que Joga. É um fã incondicional de Sonic, tendo Sonic Adventure 2 como seu jogo favorito de toda a franquia. Gosta de quase todos os estilos de games, sendo principalmente um grande fã de JRPGs. Breath of Fire IV e Final Fantasy VIII são 2 de seus RPGs favoritos. Também curte várias outras séries como MGS, BlazBlue e Tales