Tales of Symphonia Remastered l A sinfonia que reinventou Tales

Revivendo o ponto de virada da série.


A franquia Tales celebra seu aniversário de 30 anos em 2025. Além de Phantasia, que marcou o início a série, outro título se destaca como um “segundo começo”: Tales of Symphonia. Foi o primeiro game 3D da saga e estabeleceu fundamentos que ainda influenciam os jogos mais recentes.

Para aquece as comemorações de três décadas de Tales, hoje vou falar de Tales of Symphonia Remastered, a versão mais recente deste clássico. Com o conteúdo do jogo original e as adições da versão expandida japonesa, o título está disponível para as principais plataformas atuais.

A sinfonia da série Tales

Lançado originalmente em 2003 para o GameCube, Tales of Symphonia teve um desenvolvimento curioso. Enquanto marcava a transição para o 3D, o jogo também representou um retorno às origens, trazendo a franquia de volta às plataformas da Nintendo após anos de ausência.

O final dos anos 90 e início dos 2000 foram um período de transição para várias franquias clássicas da geração 16-bits. Os gráficos 3D estavam em alta, e muitas séries aproveitaram a chegada do PlayStation para dar esse salto para o novo estilo.

No entanto, Tales foi uma das poucas franquias que optaram por não seguir a onda naquela época. Em vez disso, a série manteve a fórmula estabelecida em Tales of Phantasia, continuando a refinar seus sistemas e apostando numa jogabilidade que já havia conquistado os fãs.

Após o lançamento de Tales of Eternia em 2000, a Namco sabia que, eventualmente, teria que fazer a transição para os gráficos 3D. Embora no PlayStation o 2D ainda fosse bem aceito, com o lançamento do PS2, a situação mudou. Final Fantasy X, lançado em 2001, consolidou o uso da terceira dimensão nos JRPGs, recebendo muitos elogios pela sua apresentação gráfica impressionante.

Em comparação, o primeiro título da série Tales no PlayStation 2 foi Tales of Destiny 2, lançado em 2002. Embora ainda utilizasse gráficos 2D, os visuais eram bonitos, mas já mostravam sinais de idade, especialmente quando comparado a Final Fantasy e outras franquias que já estavam migrando para o 3D. A Namco sabia que era hora de atualizar a série e a oportunidade para isso surgiu em outro console da mesma geração.

Desde o lançamento de Tales of Destiny em 1997 no PlayStation, o estúdio responsável pela série, o Wolf Studio, passou por uma divisão interna. Dois miniestúdios foram formados para trabalhar nos jogos. O primeiro, composto principalmente pelos veteranos de Phantasia, ficou responsável por Eternia, enquanto o segundo assumiu o desenvolvimento de Destiny 2.

Após concluir Eternia, a Namco foi abordada pela Nintendo, que estava em busca de parceiros para desenvolver jogos para seu próximo console, o Gamecube. A empresa queria evitar os problemas da geração anterior, onde houve uma escassez de títulos de certos gêneros, incluindo RPGs.

Com o Gamecube oferecendo um grande poder gráfico e focado em visuais 3D, a Namco viu a oportunidade perfeita para levar a série a um novo patamar. A equipe responsável por Eternia foi então designada para desenvolver um novo título, especificamente pensado para aproveitar ao máximo as capacidades do console da Nintendo.

O fato de a série ter um recomeço na plataforma de uma empresa onde tudo começou teve grande influência sobre o time de desenvolvimento. Decidiu-se, então, retornar ao universo de Phantasia, o que resultou em muitos elementos familiares, como personagens, temas e até mecânicas de jogabilidade que lembram bastante o que foi introduzido no primeiro jogo da série.

No entanto, como mencionei antes, várias mecânicas foram definidas nessa época e continuaram a ser aprimoradas ao longo dos anos, permanecendo presentes até em títulos mais recentes, como Tales of Arise.

Não posso me chamar de Herói se não consigo salvar nem uma amiga

A narrativa de Tales of Symphonia segue Lloyd Irving, um jovem espadachim criado por um anão que vive em Iselia, no mundo de Sylvarant. 4,000 anos antes dos eventos da história, o lendário herói Mythos pôs fim à terrível guerra conhecida como a “Kharhan War”, selando os Desians (meio-elfos responsáveis pela guerra) e salvando o mundo antes que a mana, um recurso essencial para a vida, se esgotasse.

Após um período de paz, o mundo começou a decair e os Desians retornaram. No auge do caos, um escolhido, abençoado pela igreja de Martel e pelos anjos, surgiu para restaurar a mana e selar os Desians. Esse evento, repetido em diferentes épocas, acabou se tornando conhecido como a “Jornada da Restauração”.

A melhor amiga de Lloyd, Colette Brunel, é a última escolhida e está prestes a iniciar sua própria Jornada da Restauração. Inicialmente, Lloyd quer acompanhá-la, mas acaba sendo recusado pela avó de Colette, que não acredita que ele possa mantê-la segura.

Após um incidente causado por seu outro melhor amigo, Genis Sage, Lloyd é banido de Iselia. Ele acaba se juntando à jornada de Colette, ao lado de Genis, sua irmã Raine Sage e o misterioso mercenário Kratos Aurion.

A jornada leva o grupo a viajar por todo o mundo de Sylvarant, em busca de libertar os selos de mana, protegido pelos espíritos elementais. Além dos Desians, eles enfrentam novos inimigos e descobrem revelações importantes, como a introdução de Sheena Fujibayashi, uma ninja que revela a existência de outro mundo, Tethe’alla, e a verdade por trás da Jornada da Restauração.

Não vou revelar muito mais da história, pois ela merece ser vivida em primeira mão. O que posso dizer é que Tales of Symphonia não segue a tradicional fórmula de bem contra o mal, heróis e vilões. A narrativa do jogo tem nuances e explora temas bem mais complexos e próximos da realidade do que se espera de um JRPG. Um dos principais temas, que é uma expansão do que já foi explorado em Phantasia, é o racismo contra os meio-elfos.

Além dos Desians, que causam problemas, os meio-elfos são vistos como aberrações tanto por humanos quanto por elfos. Genis e Raine, dois meio-elfos, passam boa parte do jogo tentando esconder sua verdadeira identidade, com medo das reações que os outros membros do grupo possam ter ao descobrir a verdade.

Além deles, vemos diversos momentos em que o ódio racial é claramente expresso. Esse preconceito também é responsável pelas ações do verdadeiro vilão da narrativa, que, movido por seu próprio ressentimento, perdeu alguém querido devido ao racismo enraizado na sociedade.

Obviamente, a história não se aprofunda muito no tema e nem tenta causar grandes questionamentos sobre ele. No final, ainda segue uma fórmula bem comum no Japão, com clichês como amizade e confiança superando esses obstáculos. No entanto, a forma como o tópico é apresentado é bastante interessante e dá uma camada extra à narrativa. 

Outro tema muito bem explorado em Tales of Symphonia é a questão moral em torno do título de “escolhido”. A história mostra uma pessoa criada desde o nascimento para ser o “salvador” do mundo, mesmo que o preço disso seja sua própria vida.

A aceitação de Colette em ser apenas mais uma peça no sistema que sacrifica almas, sem se importar com os sentimentos dos envolvidos, entra em conflito direto com Lloyd. Como um típico protagonista de histórias japonesas, ele se recusa a aceitar esse destino e luta para encontrar uma forma de salvar Colette.

Embora sua narrativa não seja tão impressionante em comparação com outras do gênero, eu ainda acredito que vale a pena acompanhá-la. Tales of Symphonia mistura bem momentos cômicos, sérios e mais calmos, com ação nos momentos certos. O resultado é uma história única e bastante memorável.

Um combate familiar com dimensões adicionais

Chegamos a um ponto onde Symphonia se vê preso à sua própria “mentira” de ser um jogo 3D: as batalhas. O sistema de combate, o “Multi-Line Linear Motion Battle System”, tenta combinar o estilo 2D dos jogos anteriores com as novas possibilidades que as três dimensões oferecem.

Basicamente, o combate ainda segue a lógica do 2D, com os personagens controlados pelo jogador se movendo em uma única linha entre eles e os inimigos. A diferença é que inimigos e os outros membros da party se movem livremente em 3D. O jogador pode alternar o alvo com um toque de botão, mudando a direção do personagem, criando assim um efeito de pseudo-3D, onde o movimento é mais dinâmico, mas ainda preso a uma estrutura de combate linear.

Assim como em outros jogos da série, o sistema de combate de Tales of Symphonia é bem simples, com ataques normais, artes (ataques especiais), defesa e esquiva. As principais novidades são o sistema “Over Limit”, que faz sua estreia aqui e permite que os personagens se tornem mais poderosos por um tempo limitado, e a “Unison Gauge”, que, ao ser preenchida, permite a combinação de artes entre diferentes membros do grupo.

O sistema Over Limit também oficializa as “Mystic Arts”, artes especiais que causam dano elevado aos inimigos. Esse novo sistema é ativado automaticamente quando os personagens realizam certas ações, como atacar inimigos ou se defender. Durante um período limitado, o personagem recebe buffs e, ao cumprir certos requisitos, pode desencadear sua Mystic Art.

Fora do combate, Tales of Symphonia também introduz o sistema de “Exsphere”, itens especiais que concedem habilidades adicionais aos personagens quando equipados. Além de oferecerem novas habilidades, as Exspheres também impactam na evolução dos personagens, influenciando no desbloqueio de novas técnicas.

A transição para três dimensões

Ainda buscando manter um estilo artístico que remetesse aos jogos antigos, os desenvolvedores optaram por usar chibis para os personagens 3D. Entretanto, essa escolha, embora tenha funcionado na época, não envelheceu tão bem nos dias atuais.

A transição para três dimensões trouxe novas possibilidades de exploração do mundo e novos desafios para as dungeons, que são bem aproveitados em Symphonia. As animações também foram expandidas, já que, em jogos anteriores, os personagens ainda dependiam de balões de emoções. Aqui, temos movimentações adicionais feitas com os modelos 3D. O único ponto negativo é que essas animações são bem básicas, com poucas variações, fazendo com que algumas delas pareçam robóticas e um tanto rígidas.

A versão Remastered do game traz uma pequena melhoria nos visuais, além de aumentar a resolução geral do título. No entanto, há um ponto importante a ser mencionado: após seu lançamento no GameCube, Tales of Symphonia foi relançado no Japão para o PlayStation 2. Essa decisão foi tomada pela Namco para tentar impulsionar as vendas, já que a empresa não estava satisfeita com os números da versão para o Cube.

O port para o PS2 adicionou conteúdo extra, como novas sidequests e itens adicionais. Contudo, como o jogo foi desenvolvido originalmente com as especificações do GameCube em mente, a versão para o console da Sony sofreu algumas modificações negativas, como a redução da taxa de quadros para 30 FPS e gráficos de qualidade inferior. A versão Remastered, infelizmente, se inspira nesse port “pior”, mantendo essas limitações visuais, apesar das melhorias gerais.

A boa e velha experiência Tales

Tales of Symphonia é um jogo repleto de conteúdo adicional, incluindo sidequests, duelos contras chefes secretos, itens exclusivos e até momentos alternativos da narrativa que podem ser explorados em uma segunda jogada. Isso garante uma boa dose de replayability e novas experiências, tornado o título ainda mais envolvente para quem decide revisitar o mundo de Sylvarant.

Este também é o único título da série Tales que possui um sistema de relacionamento entre Lloyd e seu grupo. Embora não seja tão robusto quanto o sistema visto em séries como Persona, é uma adição única que oferece um incentivo extra para o jogador revisitar o jogo, explorando diferentes interações e escolhas ao longo da jornada.

Comparado aos relançamentos mais recentes da série, como Tales of Vesperia e o recém-anunciado Tales of Graces F, Symphonia mostra sua idade. A apresentação é bem limitada, com modelos de personagens pouco detalhados e sem muitas expressões, além de uma jogabilidade um pouco dura. Mesmo assim, para quem nunca jogou um título da saga Tales, ou para aqueles que buscam algo mais simples, vale a pena experimentar Tales of Symphonia.

Tales of Symphonia Remastered não foi lançado em seu melhor estado, com vários erros e até alguns efeitos gráficos removidos. No entanto, a Bandai Namco trabalhou arduamente para corrigir muitos desses problemas, melhorando a qualidade geral e garantindo que o jogo alcançasse um bom patamar. Isso permitiu que mais pessoas pudessem aproveitar um dos títulos mais importantes da série, oferecendo uma experiência mais refinada e acessível.

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Jornalista, Assessor de Imprensa, fã de café e dono do canal Carinha que Joga. É um fã incondicional de Sonic, tendo Sonic Adventure 2 como seu jogo favorito de toda a franquia. Gosta de quase todos os estilos de games, sendo principalmente um grande fã de JRPGs. Breath of Fire IV e Final Fantasy VIII são 2 de seus RPGs favoritos. Também curte várias outras séries como MGS, BlazBlue e Tales