Triangle Strategy | O verdadeiro peso de nossas convicções

Mais um clássico instantâneo da série HD-2D da Square Enix.


Algum tempo atrás, me interessei bastante pela iniciativa da Square Enix de criar jogos que remetessem a RPGs clássicos de SNES e PlayStation. O belo Octopath Traveler nasceu dessa nova empreitada e, mais recentemente, tivemos o segundo jogo da empresa com essa inspiração, e também o objeto desta análise: Triangle Strategy.

Dessa forma, o game lembra bastante o aclamado Final Fantasy Tactics, mas com recursos narrativos e interações de mapa bem inovadores para títulos de seu gênero. A qualidade dos gráficos no que diz respeito a partículas e cenários também é um dos maiores charmes do jogo, além de suas cenas principais serem dubladas em japonês e inglês.

O mundo de Norzelia

Repleto de política e com um ar de Game of Thrones, Triangle Strategy se passa nas terras de Norzelia, um continente que abriga três grandes reinos. A nação mais ao norte é Aesfrost, uma potência militar exportadora de ferro. Já no quente e árido leste temos Hyzante, um povo religioso e próspero que domina o recurso mais importante do continente: Sal.

Entre esses dois poderosos reinos está um terceiro país, Glenbrook, que abriga o protagonista da história: Serenoa Wolfort. Apesar de não contar com recursos estratégicos, o reino central foi responsável por dar um fim a uma guerra generalizada conhecida como “Saltiron War” e tem prestígio diplomático por conta disso.

Diante de inúmeros problemas, tanto novos como antigos, uma nova guerra é iniciada e o protagonista se vê no antro do conflito. Assim, Serenoa deverá decidir quais serão seus valores e defender três caminhos possíveis para resolução da situação: Liberdade, Utilidade ou Moralidade.

Consequentemente, optar por rotas e escolhas importantes (e complicadas) ao longo do jogo pode levar o jogador a aliar-se às diferentes nações, ou mesmo manter-se neutro. Para isso será importante acessar documentos encontrados pelo mundo do jogo, aprendendo um pouco sobre o passado e a verdadeira face de cada um dos países envolvidos.

Aesfrost, como dito antes, situa-se no norte do continente, em meio à neve e condições de vida difíceis, tem um povo pouco amigável, mas que se orgulha de ser justo, falando muito de sua meritocracia. O domínio de minas de ferro fez da nação uma referência em armamento de todos os tipos.

Já Hyzante é uma jóia no deserto, com uma fonte abundante de sal, recurso importantíssimo para conservação de alimentos em Norzelia. Além disso, difundir sua religião é um objetivo conhecido por todos, bem como seu desenvolvimento científico.

Evitaremos falar muito sobre Glenbrook por conta de possíveis spoilers, mas o reino é basicamente um feudo medieval clássico. Com um rei bondoso e casas nobres que protegem a monarquia, a nação é muito influente politicamente e tem um povo muito respeitoso com seu regente.

A história começa com um grande acordo sendo selado em uma confraternização entre os três reinos. Tal comemoração celebra a união de todos para explorar uma mina de ferro nos arredores de Glenbrook, cujos espólios serão divididos igualmente para toda Norzelia. Um feito como esse marcaria o início de uma era de paz… ou é o que se esperava…

O peso de suas convicções

Desde os trailers e vídeos promocionais, a logo do game sempre foi apresentada como uma balança e isso é uma figura literal da principal mecânica que faz de Triangle Strategy um ótimo jogo de estratégia. Ao longo da história, Serenoa e seus amigos terão de tomar decisões que podem influenciar todo o continente e isso é feito usando uma balança.

Assim, cada um dos sete protagonistas fixos (presentes independente da rota escolhida) tem um peso idêntico que pertence somente a si. Diante de problemas complexos, Serenoa, detentor de apenas um dos pesos, deverá discutir as soluções com seus aliados, que votarão usando a balança como juíza e seus pesos como votos.

O objeto não é mágico, mas tem um nome digno de uma relíquia da família Wolfort: “As Escalas da Convicção”. Usada pelo pai de Serenoa desde os tempos da guerra, caberá ao seu herdeiro fazer uso da ferramenta para decidir o rumo que Norzelia tomará dali em diante. Contudo, o jogador terá mais um meio de guiar o enredo na direção que quer.

Antes das votações serem feitas, é possível fazer duas coisas para tentar influenciar seus aliados a escolherem a solução que mais se alinha com seus objetivos. A primeira é andar pelos arredores colhendo testemunhos e documentos que suportem a resolução desejada como favorável. A segunda é debater o problema diretamente com o personagem, apresentando seus pontos.

Apesar de algumas escolhas de diálogo na hora dos debates serem desbloqueadas com evidências e testemunhos, nem sempre elas serão a melhor coisa a se dizer naquele momento. Dessa forma, é importante que o jogador leve em consideração a personalidade do outro debatedor e quais as coisas em jogo para ele naquele problema.

Uma ótima maneira de conhecer seus aliados é alimentando os laços de Serenoa com cada um deles. Isso pode ser feito de diversas formas, como conversar com eles em fases de exploração, convencendo-os de suas ideias, ou simplesmente lutando ao lado deles em combates da história e conflitos opcionais.

O campo de batalha

Mesmo se parecendo bastante com seus títulos irmãos de gênero, Triangle Strategy tem mecânicas de combate interessantes. Uma dessas particularidades é a possibilidade de alterar o terreno onde a batalha acontece. A maioria dessas alterações é feita por meio de magos e outros personagens arcanos.

Como exemplo temos o pesquisador Corentin, especializado em magias de gelo. Diversos feitiços conjurados pelo personagem são capazes de congelar o solo, dificultando a movimentação tanto de unidades inimigas quanto aliadas.

Além disso, também se pode incendiar locais com material inflamável ou mesmo atear chamas em vegetação para potencializar o dano de magias de fogo. Uma certa personagem que encontrei em minha primeira rota era deliciosamente apta a causar um verdadeiro caos no campo de batalha por simplesmente manipular o clima.

No que diz respeito à progressão dos protagonistas, o jogo usa um sistema bem conhecido para jogos mobile. Ao obter materiais raros, é possível “evoluir” cada guerreiro para uma forma mais poderosa que faça sentido hierarquicamente, como por exemplo promover um escudeiro para cavaleiro.

Desenvolver todos os personagens é crucial, já que algumas habilidades especiais e passivas são restritas a determinadas classes. Adicionalmente, também é possível aprimorar as armas utilizadas pelos soldados, desbloqueando uma árvore de fortalecimentos tanto de técnicas como de atributos.

Não se trata de uma história feliz

Os jogos que inspiraram Triangle Strategy traziam, em sua maioria, histórias fantásticas com elementos clássicos da tão utilizada “jornada do herói”. Já no título em questão, os assuntos abordados são um pouco mais sensíveis, envolvendo assassinatos políticos, crueldade generalizada e até mesmo racismo com um certo povo.

Antes de envolver-se com o game, é importante que o jogador esteja ciente que a obra não tenta ser uma história de heróis e atos revolucionários romantizados. Na verdade, o contrário prevalece: nem sempre a escolha “bonita” será aquilo que Norzelia precisa, podendo custar a vida de personagens importantes em alguns casos.

Assim como em Fire Emblem: Three Houses, nenhuma das rotas disponíveis pode ser considerada canônica. Personagens que em determinado caminho podem parecer simplesmente odiosos mostram-se igualmente determinados a cumprir sua agenda, com motivações tão sólidas quanto as do próprio protagonista.

Isso é apenas um dos pontos que oferecem uma bela experiência caso o jogo seja iniciado uma segunda vez, mas vale ressaltar que existem outros motivos importantes para tal. Um exemplo interessante é que alguns personagens são exclusivos de determinadas nações, o que compele o jogador a aliar-se com o país em questão caso queira conhecer melhor tais guerreiros.


Plataforma:
Nintendo Switch

Desenvolvedoras:
Square Enix, Artdink

Triangle Strategy tem uma história refrescante para fãs de RPGs táticos que envolvem política e diversidade de personagens como Fire Emblem e o próprio Final Fantasy Tactics. O game conta com mais de 40 horas de jogo em cada uma de suas rotas e pode facilmente durar 100 ou mais horas nas mãos de complecionistas como eu.

Se você gosta de protagonistas bem desenvolvidos e tramas medievais que focam mais em nuances de governança e relações diplomáticas do que jogar um combate atrás do outro, o título é uma ótima pedida. Apreciei cada momento do jogo ao lado de Serenoa e seus leais aliados, mas desejava que esses momentos não fossem tão extensos no final das contas.

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Ayana

Estudante de Letras - Japonês na Cruzeiro do Sul; formado em paleografia na oficina Sérgio Buarque de Holanda e em design pela Saga. Prefere jogos narrativos, RPGs ou de ritmo. Atualmente passa horas jogando indies e RPGs no Switch ou sustentando seu vício em gachas de celular. Tem como franquias favoritas Fire Emblem, Pokémon, Persona e Final Fantasy. Enciclopédia humana de Love Live e garota mágica nas horas vagas.